Bem, bem, bem. Uma semana intensa com o mascarado se passou e
é hora de voltar à vida real. Ah, como isso é difícil, não é mesmo? Por que a
vida não pode ser uma eterna lua de mel? Viver de amor é tão mais fácil. E tão
bom! Não há preocupações, só prazeres, não há erros, só acertos, não há
tristezas, só alegrias e, principalmente, não há o mundo lá fora, só o mundo de
dentro: ele dentro de você, você dentro dele. Mas chega uma hora da simbiose em
que não se sabe mais quem é quem e você começa a se transformar nessa outra
pessoa que também é você, mas que desconhecia.
Enquanto a paixão está latente, ótimo, você se sente a melhor
pessoa que poderia ser: linda, feliz, sorridente, de bem com a vida. Aos
poucos, porém, a convivência vai trazendo situações para serem superadas que
podem ir lentamente guiando você para o ciúme, o sufocamento, a possessão, a
neurose, o egoísmo e outros sentimentos infantis mal resolvidos. E, se você não
se cuidar, vai se perdendo de si mesma. Você sabe quem você é? E o que gosta de
ser? O mascarado me convidou a ficar com ele mais um mês. Eu disse: “Adoraria,
mas não posso”. Não posso me perder de mim mesma.
Eu sempre me amei. Juro, no duro, não é apenas um assumido
narcisismo, sempre gostei do meu jeito de ser, da liberdade que sinto mesmo
apaixonada, do meu descompromisso com as convenções sociais, da minha falta de
tabus e excesso de curvas e libido. Sou uma ótima companhia até quando estou
sozinha. Todos os dias eu arranjo motivos para me agradar, para rir, para me
fazer feliz, seja um presentinho que me dou, um telefonema para alguém que me
faz bem, uma massagem, um sorriso no espelho, um autoelogio, um novo percurso
para ir até o supermercado e que me faz descobrir coisas novas, uma taça de
champanhe para brindar o que quer que seja, uma companhia deliciosa para passar
a noite ou a tarde ou os dois.
Gostar-se e estar bem consigo mesma faz toda a diferença,
principalmente, na hora da conquista. Sabe quando acontece alguma coisa boa e
você quer contar para o mundo todo? Pois é, eu me acho ótima e quero me
compartilhar com todo mundo. Eu não saio por aí a procura de alguém para ser
correspondida, que me preencha, que me complete, que isso e aquilo, porque no
fundo eu estou plenamente satisfeita comigo, eu me basto. Saio para distribuir
minhas vontades, meu tesão, meus desejos, meus sorrisos, meus decotes. E quando
você dá sem pedir nada em troca é como bilhete premiado da loteria: todo mundo
quer. As pessoas te querem por perto, sonham com você, você vira objeto de
consumo. Há melhor coisa na vida do que ser consumida?
Já vivi intensas paixões, grandes químicas, lindas histórias.
Nisso, não acho que seja diferente de ninguém. O que eu gosto em mim é que não
encaro os relacionamentos, sejam de uma noite, sejam de meses, como exclusivos
e definitivos. Tampouco faço planos para eles. Como vou saber se estarei viva
amanhã? Não consigo conceber essa coisa de que as pessoas nos pertencem, acho
que ninguém é de ninguém, a gente pertence a si próprio. Sou partidária daquele
ditado da gaiola: “Se você amar alguém, deixe-o livre, se voltar, ele é seu, se
não voltar, nunca foi”. Comigo dá super certo: é muito mais provável que eu
amanheça com dois passarinhos na mão do que com um voando.
Outra coisa que considero um erro estratégico por parte da
maioria das mulheres é se preocupar em agradar em tudo. Se a beleza está na diversidade, nas diferenças, por que
procurar ser igual? Abaixo a padronização! Viva as múltiplas possibilidades,
viva o seu cabelo encaracolado, o seu nariz adunco, as suas pernas finas, valorize
o que você tem e que as outras não têm, valorize-se. Você é única e especial e
esse é o seu maior trunfo.
Além do mais, os homens não são como as mulheres, que olham o
conjunto e tiram uma média. Os homens nos observam por partes: pés, tornozelos,
batatas da perna, coxas, bunda, quadril, cintura, barriga, peitos, mãos, dedos,
unhas, pescoço, lábios, nariz, olhos, cabelos. E se por acaso você não tiver
realmente nada do que se orgulhar, eles ainda nos dão uma senhora canja: vidram
no nosso jeito de sorrir, andar, falar, de rir, rebolar, no nosso cheiro, na
nossa cor. Cá entre nós, é impossível que você não agrade a eles em algum
quesito. O jogo da sedução é como o dominó: você tem que encaixar a peça certa
em certa peça. Só isso.
Ah, uma coisinha que eu já ia esquecendo de comentar: a
falível autoestima. Ela precisa ser exercitada, é como dinheiro: não nasce em
árvore, você necessita aprender a ganhar. Quando eu falo em mim, não me refiro
aos meus peitos, mas aos meus peitos maravilhosos,
nem ao meu quadril, mas ao meu quadril generoso,
à minha cinturinha deliciosa, à
minha bunda gostosa, e assim por
diante. Incremente-se com adjetivos como quem passa um batom na boca. Se você
realça o físico, por que não realça o espírito? Marketing pessoal é tudo na
vida. Pode ser até que, se você algum dia vier a me conhecer pessoalmente, não
ache que eu seja tudo isso. Não importa. De tanto eu repetir que sou, você vai
acabar me idolatrando.
Pois eu expliquei isso tudo para o mascarado. Ok, tudo não,
talvez tenha pulado algumas partes. Mas disse que um mês era muito tempo dentro
do estilo de vida imediatista que adotei pra mim, que só consigo ser fiel ao
hoje, jamais ao amanhã, que vivo um dia de cada vez, e que amo dividir os
momentos e tudo de bom que a gente divide, mas o máximo que consigo fazer é
usufruir da nossa paixão, dos beijos, do sexo, dos carinhos, das conversas, dos
risos, mas não o quero pra mim, nem posso assinar exclusividade. Eu quero sim,
estar com ele sempre que nós dois quisermos, como naquele momento, ali, entre
os lençóis macios da cama dele, o nariz dele encostado no meu, eu inteirinha
encostada nele.
“Tenho um presente para você”, ele disse. “Outro? Você já me
deu tantos!”, beijei-o. “Fecha os olhos”, hummm, lá vem essa criatura me
enlouquecer de novo. Então ele declamou para mim aquela poesia que diz mais ou
menos assim: “Não te quero para mim, nem poderia, quero-te para ti mesmo e para
a tua própria vida, quanto mais fores o que queres, mais serás o que eu
queria”. Falou: “Pode abrir os olhos”. E em minhas mãos estava uma reserva para
dois no hotel Unique Garden. O helicóptero partiria depois do meio-dia. Onde
mesmo eu queria almoçar? Pronto. Me ganhou de novo. O que faço com este homem?
2 comentários:
Eeei está muito faltosa.. Escreve mais! Bj
Uma amiga comentou sobre seu blog, disse que seus textos eram muito bons. Lendo agora, vi que ela não estava mentindo! Muito bom mesmo! Gostei muito! Escreve mais!
Um abraço,
Renata Pessoa
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