sábado, 28 de abril de 2012

FESTA DA BEBEL


Há certos momentos na vida que são inesquecíveis não porque jamais os esquecemos, mas porque não paramos de lembrá-los. São situações e emoções que você sabe únicas, que beiram a incredulidade pela magnitude, que dão vontade de ajoelhar e agradecer pelo privilégio de vivê-las. Momentos tão incríveis que dão um aperto no peito pela incapacidade de repeti-los - pois a perfeição é finita e uma vez atingida só pode ser superada por ela mesma. Pela consciência de que eles já se foram e só nos resta amargurar de saudade, repassá-los na memória e rir ou chorar de felicidade. Assim foi a festa de “Amante Secreto”, deste ano, na casa da Bebel.

terça-feira, 24 de abril de 2012

AMANTE SECRETO


Ah, doces verões natalinos. A proximidade do Natal me faz recordar minha infância nada inocente. Sempre soube que eu era diferente das outras garotinhas. Enquanto elas se preocupavam em arranjar um par romântico para as suas bonecas, eu queria logo me enfiar atrás de uma cortina ou embaixo da cama com alguém para brincar de “perereca elétrica”, que é isso mesmo o que vocês estão pensando. Aos 7 anos, já sabia muito bem onde ficava o meu ponto G. De lá pra cá, só fiz aperfeiçoar minhas fontes de prazer. E são várias! Quantidade também é qualidade. De vida.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

SEXO LIVRE


Ser mulher é uma conquista. A gente nasce mulher, mas para exercer a plenitude do gênero, ainda hoje, é preciso ter peito. Não estou falando daquele turbinado adquirido em clínicas de cirurgia plástica. Refiro-me à coragem, à ousadia, a não ter medo de reivindicar direitos que na lei são para todos, mas nas entrelinhas só beneficiam aos homens: a lei do sexo livre. Nunca ouviu falar dela? Pois é, a maioria das mulheres nem sabe que ela existe e que dela são beneficiárias. Mas é bom começar a divulgar. A lei diz mais ou menos o seguinte:

domingo, 22 de abril de 2012

VIZINHANÇA


Sempre faço muitos amigos e inimigos nos lugares por onde passo. Os amigos são voluntários, os inimigos, espontâneos. No meu novo prédio não está sendo diferente. Mudei pra lá há oito meses e a coisa tomou rumos de torcida de futebol: geral me odeia, geral me ama. Polarizou. Isso porque tem uma velha guarda avançadinha e uma nova guarda retrógrada. Por incrível que pareça, é assim mesmo. A caretice humana está onde menos se espera.

Tudo começou com um amasso no elevador. Pega-pega básico, do tipo coelhinho-relâmpago, sem intenção de provocar curtos-circuitos maiores. Era para ser um vapt-vupt sem preâmbulos ou postergação, até porque nosso sistema de compressão não conseguiria esperar a privacidade recomendável de um lar para despressurizar. A coisa toda tinha começado no carro, esquentado na garagem e no elevador já estávamos num grau de calor impossível de controlar: pegamos fogo. Ele levantou a minha saia e me jogou contra a parede, olha que azar, justamente em cima dos botões. Trancamos o elevador.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

AH, A SILVINHA...


Depois do beijo sensacional da Silvinha, minha sorte mudou para muito, muito melhor. Por incrível que pareça, sem saber jogar pôquer, comecei a ganhar todas. E todos. Todos os olhares, todos os sorrisos, todos os toques por cima e por baixo da mesa. Foi como se aquela boquinha perfeita tivesse me dado poderes de Loreley: eu falava e os experientes marujos se atiravam aos meus pés, eu levantava para tomar um ar na janela, alguém vinha por trás – pela frente, pelo lado – me lamber, dar amassos, tirar uma casquinha gostosa. O jogo em si ficou em segundo plano. O plano agora era o horizontal.

A mesa virou um mero suporte de vontades. As cartas ferviam, olhares pegavam fogo. Cada rodada era uma peça de roupa que rodava. Meu vestido, meias de seda, soutien, foram parar no lustre. Todos estavam enlouquecidos pagando pra ver. E quando me deitei sobre as cartas em protesto contra um Às de ouro que não veio? Ninguém reclamou. O Júlio caiu de boca nos meus peitos, fazia círculos com a ponta da língua que me deixaram inteirinha um ouriço do mar. O Gílson foi abrindo o meu espartilho umbigo acima, ponto por ponto, presinha por presilha, com a ajuda de um gelo – que delírio! – achei que fosse desmaiar. E a Silvinha, ah, a Silvinha fez jus ao já comentado belo poder de sucção. O erotismo estava feito faíscas no ar.

APOSTANDO TODAS AS FICHAS


Fui convidada para um jogo de pôquer na casa do Júlio. O Júlio, marido da Betinha, minha amiga desde a adolescência. A casa é do Júlio porque eles são um casal moderno: cada um tem o seu canto. Moram separados e dormem juntos sempre que estão a fim ou quando um adormece em frente à TV do outro. Não encontrarem-se todos os dias foi uma maneira de preservar, mais que as manias e individualidades, o amor. E atiçar o fogo da paixão. “Quando eu vou ver o Júlio, me produzo toda, coloco minha melhor roupa, a mais sexy lingerie, me perfumo toda”, conta Betinha. “Ele sempre me agarra como se estivesse me vendo pela primeira vez”.

O Júlio e a Betinha têm uma regra: nunca se vêem aos domingos. Aos domingos, eles fazem o que quiserem com quem acharem que devem. Se der vontade, um conta para o outro na segunda-feira. Se der vontade. Caso contrário, nenhum dos dois entra em crise. “Eu só conto quando rola um caso extraconjugal daqueles bem picantes. O Júlio pira de tesão. Me chama de vadia, me xinga, depois me enche de beijos. Ele adora detalhes, por isso sempre incremento, aumento, invento. Porque você sabe, para alguém chegar aos pés do amorzão, só mentindo um pouquinho. Meu marido é perfeito”, confessa sorrindo.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

AMASSADINHA


Estava uma tarde morna, dessas que amolecem o corpo da gente e pedem uma companhia que acabe de nos derreter de vez ou um banho gelado revigorante. A piscina do prédio estava convidativa, mas marquinha de biquíni só me interessa na parte de baixo. E a última vez que fiz um topless no condomínio, vixe, foi um Deus nos acuda. Era um tal de homem babando, mulher vociferando, casais discutindo, cachorro latindo, chamaram até a polícia. Foi um erro tático: o batalhão inteiro da 19ª DP me tem na mais alta estima. Quando estou com insônia, pratico caridade, levo um bolinho de milho e um belo decote para alegrar a rapaziada. Teriam feito um favor em chamar os bombeiros. Diz que tem uma nova leva de recrutas de tirar o chapéu. Sempre tive fetiche por homens de fardas com grossas mangueiras na mão.

domingo, 15 de abril de 2012

A VIDA É ASSIM


Sábado morno, nenhum compromisso à vista, dois ou três convites pouco empolgantes. Resolvi me dar uma noite de orgias. Orgias gastronômicas. Fui ao supermercado sem segundas intenções, mas com aquela meia de seda fina e saltos-agulha que levantam qualquer autoestima, entre outras coisas. Sou, sempre fui, uma pessoa aberta a possibilidades. Saí vestida para matar, menos por vaidade do que por costume. Uma mulher bem vestida está sempre nua aos olhos dos homens. E, cá entre nós, a nudez implícita é um excelente afrodisíaco.

Empurrei meu carrinho pra cá e pra lá costurando prateleiras insossas. Nada me apetecia. Hoje estava a fim mesmo de um básico champanhe com morangos, daqueles bem molhadinhos, de chupar o caldinho e deixá-lo deslizar pelo canto da boca. De sentir os pinguinhos escorrendo pelo ombro e, de preferência, ter alguém para ir com a língua enxugando centímetro por centímetro, sulco por sulco, até... Ai, ai, Verônica. Melhor se concentrar. Olhaí, acabou de bater no carrinho do rapaz. Ula-lá! Não sou de perder o rebolado, mas que pedaço de mau caminho. Corpo de homem, rosto de menino. E que par de pés. Será que tirei a sorte grande?

MUITO PRAZER

Volúpia é uma palavra sugestiva. Para pronunciá-la, a gente faz um biquinho, depois encosta a língua assim, no lábio superior e, para arrematar, dá aquela apertadinha na boca, de quem está prestes a cometer um ato libidinoso. Tive sorte de nascer com este nome tatuado na minha estirpe. E mais ainda de vir ao mundo com lábios carnudos, pele aveludada, longas pernas bem torneadas, um quadril de parar o trânsito e uma cinturinha sinuosa, que só se aquieta com uma boa pegada. A natureza foi generosa comigo. Procuro não decepcioná-la.

Tenho cabelos compridos de cor indefinível. Tudo depende do meu humor. E da ocasião. No momento, estou morena, só porque as loiras estão em alta. Gosto de ir contra a corrente, chamar a atenção. Amo decotes, esses precipícios de promessas e mistérios que não se desvendam, mas se oferecem. Adoro como os olhares masculinos infalivelmente caem nessa armadilha, se prendem, se agitam, e de como as respirações se alteram, as peles enrubescem, o calor aumenta. Se um verdadeiro vulcão de emoções entra em erupção com um simples artificiozinho feminino, imagine com a inventividade dos acessórios de última geração? Eles abrem um leque de possibilidades. Possibilidades estas que eu totalmente me possibilito.

Não tenho culpas. Nasci desprovida deste mecanismo de autodefesa. Quando quero, quero e, se o outro quer, já viu, são dois querendo. Ou três, quatro, sabe como é. É como fio e pavio, fósforo e pólvora, um risca, o outro acende, e vira aquele fogaréu. Como resistir? E pra quê? Meu desejo inflama fácil, não sou das mais exigentes. Não tenho preconceitos de raça, cor, nem, principalmente, de sexo. O que seria da música se houvesse uma nota só? Toco em todas as escalas, ritmos, orifícios. Só não danço dois pra lá, dois pra cá, porque gosto de inovar.

Nunca tive namorado, mas acredito em fidelidade. Para os outros. Quando quem me trai descobre que já foi traído fica fulo da vida. Os homens brasileiros são muito machistas, não gostam de competidores à altura. E, para mim, infidelidade é uma questão de urgência. Não me peçam para controlar o incontrolável. Também não consigo ficar muito tempo com uma pessoa só. Minto. Consigo ficar hoooras, dias, uma longevidade, entre quatro paredes com alguém que me faça nunca querer ir embora. Que saiba escorregar nas minhas curvas com a destreza que a minha sinuosidade exige. Que me engula, amasse, esfole, arrepie, que me cavalgue, que me inspire. Que consiga libertar com toques, sussurros, olhares, os urros selvagens da minha feminilidade. Sim, jogo nos dois times, mas sou superfeminina. Disso, não abro mão. Tudo o mais é negociável.

Já tentei fazer análise para compreender a minha luxúria, mas os psicanalistas acabavam sempre na minha cama, não deu muito certo - não no ponto de vista ético. Ai, ai. No fundo, sou uma romântica inveterada. Dou o maior valor para flores, bombons, agradinhos. O problema é que eles são o aperitivo e eu, infalivelmente, o prato principal - com direito a repeteco e sobremesa, claro, porque generosidade é uma qualidade da qual me orgulho. Um belo dia, desisti de tentar entender o mundo e me aceitar como sou. Se os outros aceitam e pedem mais, porque vou ficar criando caso? Os únicos casos que eu crio agora são exatamente esses que vocês estão pensando.

Olha, não sou muito boa com palavras, mas resolvi aceitar o convite de escrever estas memórias porque o melhor da vida são encontros. E me agrada ter um encontro com você aqui para falar de sexo e amor, essas duas coisas complementares e independentes que, servidas juntas dão a impagável ilusão de plenitude e, separadas, a deliciosa sensação do aconchego. Só não espere de mim dicas ou orientações. Tudo o que sei é baseado nas minhas mais singelas experiências pessoais. Experiências essas que relato sem pudores. E ofereço como inspiração. Vou fazer na teoria como faço com a prática. Com muito, muito prazer.

A volta da Verônica

U-A-U. Cinco anos se passaram desde que criei este blog e nunca atualizei. A ideia era postar pensamentos curtos da Verônica Volúpia, mas um belo dia as palavras foram dormir e a personagem não mais acordou dentro de mim. Resolvi então, com um pequeno delay de anos, republicar os contos da VV. Um por dia, para relembrar a volúpia que mora em cada mulher. Aos que já conhecem, muito prazer em revê-los. A quem está conhecendo agora, o prazer é todo meu.

Beijos,
Ana Kessler