Se há uma coisa verdadeiramente surpreendente no Mascarado é
a capacidade dele fazer com que a surpresa seguinte seja sempre melhor que a anterior.
Minha noite foi uma sequência de encantamentos e não recordo bem em que momento
de exaustão ou felicidade adormeci. Quando despertei, estava no quarto dele, na
cama king size, em meio a alvos
lençóis e travesseiros de pena de ganso. Olhei para o lado e não o vi. Levei a
mão ao rosto e sim, minha máscara estava lá. Por um segundo achei que ele pudesse
ter tido a curiosidade de saber quem eu era. Quem eu sou. Porque, com certeza,
depois dessa noite, não sou mais o que eu era antes.
Em algum lugar do quarto, talvez por todos os cantos, tocava
delicadamente Twilight Song, do Charlie Haden. Eu sei pois sou louca por esse
álbum (Night and the City) que ele gravou com o Kenny Barron. Agora, como o Mascarado
descobriu, não me pergunte. Às vezes eu acho que ele lê a minha mente. Não pode
ser uma simples coincidência.
Desci da cama, nua, e só então percebi a coisa mais
inacreditável: o quarto estava cheio da minha presença. Eu estava em todos os
lugares, em todas as paredes! Na penumbra, iluminadas por pequeninas luzes
direcionadas, fotografias de partes do meu corpo, em preto e branco, estavam
emolduradas e penduradas para onde quer que olhasse. Grandes coxas, bunda,
lábios, colo, pernas, pés, mãos, queixo, pescoço, púbis, todas as minhas curvas
e reentrâncias se exibiam em poses sensuais, lindas, me transformando no
abecedário da anatomia – e porque não da alma?, feminina. Fiquei absolutamente
atordoada, estupefata, maravilhada, não sei que palavra usar.