É claro que voltei ao templo das underwears masculinas. E é óbvio que meu ex-chefe charmosérrimo estava me esperando feito um cachorrinho daqueles que a gente amarra do lado de fora do supermercado. E é mais certo ainda que não entrei pela porta da frente como ele poderia supor, mas dei um jeito de me esgueirar pela copa e ficar lá no fundo do salão mirando-o feito uma águia prestes a colocar as garras em seu coelho indefeso e apetitoso. Ok, de indefeso ele não tem nada, agora de apetitoso, hum, só de vê-lo me deu água na boca.
Há várias vantagens em se voltar à festa assim de soslaio. A principal, na minha opinião, é poder observar a pessoa que a gente está a fim e, pelo sinais corporais que ela emite, saber se as intenções dela são as mesmas que as nossas. Eu não tinha dúvida que o Toni me queria. Só me deu vontade de confirmar o quanto era esse querer. Porque eu estava descendo uma ribanceira de tesão por ele e não queria me arranhar no asfalto do mais ou menos: queria me esfolar viva num rala e rola daqueles de doer de tão bom.
Os sinais são claros: se o cara fica olhando para o relógio toda a hora, ele tem um compromisso mais tarde com alguém. É bem capaz de se mandar se você demorar. Agora, se ele ficar olhando toda hora para a porta, está se mordendo de ansiedade que você volte logo, não aguenta ficar mais nem um minuto sem a sua presença. E o Toni parecia um porteiro.
Outro detalhe: se na sua ausência ele investir em outra, babaus. Pode ser até que você volte e role e coisa e tal. Mas tanto fez como tanto faria. Mas se ele ficar pulando de galho em galho, jogando conversinha fora aqui e ali, só pra matar o tempo, bingo: você vai ter uma noite inesquecível. E o meu ex-chefinho estava pipocando mais do que milho sapeca em óleo quente. U-la-lá!
Apliquei meu último tira-teima: liguei do meu celular. Queria ver se ele ainda tinha o meu número na agenda dele, ou seja, se ainda tinha esperança de um dia cruzar literalmente comigo. Eu tinha o número dele na minha agenda, claro. Não apago nunca uma possibilidade, mesmo que remota. Mas não tive sorte: ele não atendeu. Deve ter trocado a operadora ou perdido o aparelho, enfim. Estava na hora de agir. Esperei por essa oportunidade meses e meses, chega de ficar tomando champanhe sozinha, mirando o alvo feito uma psicopata. Era hora de matar e morrer. Morrer de prazer nos braços dele.
Caminhei reto ao encontro daqueles olhos surpresos e famintos. Sorri um sorriso indefectível. Ele não disse uma palavra. Nem precisava. Me pegou pela mão e me tirou daquele lugar excitante - espero que para me levar a outro mais ainda. Saí arrastada, uau, ele estava um tufão. Voamos descontrolados para a porta, a urgência dele só fez aumentar a minha. Só tive tempo de soltar a taça de bebida em uma bandeja qualquer e tirar os meus sapatos, porque é impossível correr com um salto 15. Achei a coisa toda o máximo, me senti num filme, uma fugitiva sendo resgatada pelo mocinho para logo ser abatida por ele. Minha amiga anfitriã da festa, que provavelmente viu a cena toda, só fez abanar a cabeça rindo. Devia estar pensando: “A Verônica não tem jeito mesmo!”.
Apertei o botão do elevador com as costas, porque ele me prensou contra a parede e invadiu a minha boca com uma língua quente e rija e certeira, que me preencheu inteira. Não consegui nem balbuciar “Ai, chefinho”, mas soltava uns grunhidos parecidos, ou talvez nem tanto. Sei lá quantos andares tinha o prédio, mas foi como se estivesse pegando fogo. Descemos em desabalada sofreguidão pela escadaria anti-incêndio, quem tem fôlego de esperar o elevador?
Quando a última porta se fechou atrás de nós, num estrondo, ele levantou o meu vestido e caiu de boca nos meus peitos ali mesmo. Meus uivos ecoavam pelos vãos das escadas e pareciam ressoar como se houvessem mil autofalantes. Você já gemeu na escadaria de algum prédio? Então deve saber do que eu estou falando. Você abre a boca e o volume aumenta. Você faz outros usos da boca e outros volumes também aumentam. E como!
Minha intenção era me engalfinhar com o tipo numa superfície horizontal qualquer, nem que fosse dentro do carro. Mas confesso que a verticalidade objetiva do Toni me tirou do sério. Ele sempre soube onde queria chegar e aproveitou para exibir a curva ascendente do gráfico dele sem muita oratória, com picos fortes e estratosféricos, certeiros no meu âmago. Eu me abri pra ele cheia de admiração e obediência. Mais ou menos como nas reuniões de diretoria, quando, com apenas um olhar, me fazia afastar as pernas para ele ficar admirando a minha falta de calcinha. Ele adorava testar o autocontrole, mesmo que às vezes tivesse que se refugiar atrás do projetor de luz para esconder uma ereção. Nunca passamos desses tesões brejeiros. Nunca havíamos passado.
Já no carro, na volta pra casa – selvagem, mas com um lado bom moço, dirigiu o meu carro até meu endereço depois pegou um táxi para voltar ao estacionamento e seguir com o dele. Achei o máximo! Pensei em elogiar: “Chefinho, como você manda bem!”, mas achei que seria uma frase de duplo sentido muito clichê. Fiquei rindo por dentro e por fora e não disse nada. Quando nos despedimos, me grudou outro beijo daqueles e, me agarrando pelos cabelos, falou: “Desculpa o vocabulário, vou te falar uma coisa que não costumo dizer: você é gostosa pra cacete!”. E adianta a gente ser gostosa pra outra coisa nessa vida?
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