Acordei com a campainha tocando. Droga, quem seria num domingo de manhã? Sentei na cama, olhei pro Rafa ao meu lado, que abriu os olhos e sorriu. Exclamei: “Que preguiça de levantar”. Desabei sobre o travesseiro, me esticando feito uma gata manhosa. Esperamos soar uma segunda vez, mas nada aconteceu. Minto. Começou a acontecer. O Rafa beijou a minha mão com uma boca molhada e gostosa e foi me puxando como carretel de pescaria. Fui desfalecendo dengosa. Quando ele passou do ombro, já estava chegando no pescoço, béééé, a campainha tocou de novo.
“Quer que eu atenda?”, perguntou. “Deixa, acho que sei o que é”, pensei na síndica e na possível queixa ao meu queridinho ter estacionado o carro na vaga do Patrick, um vizinho que está viajando. Joguei a camisa social do Rafa sobre o corpo e abri a porta seminua. Era o zelador com uma cesta de café da manhã enorme, coisa de cinema. Uau! De quem seria? Havia um cartão no formato de uma máscara. Senti um arrepio na espinha, meu coração disparou, só podia ser ele: o Mascarado. Segurei junto ao peito, mas não li. Não queria estragar o fim de semana tão gostoso com um dos meus mais antigos e queridos casos.
Eu sou assim: se estou com uma pessoa, estou com essa pessoa. Não fico olhando para os lados, pensando em outra, desejando estar em outro lugar. Se escolhi estar ali, nem que seja por apenas um dia, vivo intensamente. E dou o melhor de mim. O Mascarado viajou, não deu mais sinal de vida, a fila andou. É claro que ele mexe comigo, a reação é química, foge ao meu controle. Se eu estivesse sozinha em casa, teria me jogado histérica no sofá, rasgado o envelope e me entregado à curiosidade de saber por onde ele anda e o que quer. Mas o Rafinha estava lá na cama, fofo, carinhoso, cheio de amor pra dar. Abrir aquele cartão seria um desrespeito. Melhor aguardar o momento certo.
Esconder a cesta gigante era impossível. Levar até o quarto e ler o cartão em voz alta não dava, já passei da fase da sinceridade burra. Por maior que seja o descompromisso, por mais que todos os meus homens saibam que não são os únicos, eles não precisam ter certeza disso. Pelo contrário, sempre os faço se sentirem especiais. E são! Cada um tem uma qualidade que me atrai, ou várias, é justo por isso que não consigo dar exclusividade. Hum, a cesta tinha croissants para dois. Geléias, frutas, biscoitos amanteigados, queijos, pães, sucos, até um vinho tinto com duas taças. Isso me deu uma ideia deliciosa.
Entrei no quarto vestida com um aventalzinho branco rendado, bem curtinho, sem nada por baixo, de coque e com uma bandeja na mão. “Seu café, senhor”, anunciei, com um sorriso safadinho e meigo. O Rafa se apoiou nos cotovelos, surpreso, também sorriu e me transmitiu toda a fome do mundo com o olhar. Não era somente uma fome urgente, selvagem. Era uma vontade de me engolir de beijos, de me esmagar com abraços de urso, um carinho descomunal. Sentou-se, tapou o rosto com as mãos, tornou a me olhar – se não fosse tão meu amigo, diria que estava apaixonado. “Você não existe”, falou. “É claro que existo, quer me apalpar pra ver?”.
Resolvi colocar uma pitada de pimenta àquele climinha de lua de mel. Andei até um carrinho de bar que tenho no quarto, larguei a bandeja e fiquei servindo nossos cafés fumegantes. Rebolando sensualmente, desfilando e me exibindo, caminhei até o som e coloquei uma música lounge. Voltei ao carrinho e deixei cair um guardanapo de propósito. De costas, me abaixei lenta e bem arrebitada para juntar. Quando me desvirei, o Rafa tinha perdido todo e qualquer vestígio de bom moço. Que tesão vê-lo em ponto de bala. Mas não sucumbi à vontade. Torturei-o.
Peguei um cacho de uvas e me ajoelhei sobre ele na cama. Coloquei o dedo na boca, “Shhht, quietinho”, ordenei que permanecesse imóvel. Mordeu os beiços. Fui escorregando, abrindo as pernas bem de leve, até sentir a rigidez dele na porta de entrada. Parei. Dei uma uva na boquinha e um beijo na sequência. Novamente se apoiou sobre os cotovelos, fez menção de me agarrar. “Shttt”, fiz um sinal. O olhar dele penetrava no meu. E queimava.
Desci mais um pouquinho. “Uff!”, suspirou. Mordeu os lábios mais forte. Outra uva delicada adocicou seu paladar. Outro beijo. Rebolei gostoso. “Uh!”. Vi que começou a respirar com dificuldade. Nova descida, uva, beijo. Que tesão. Estava difícil não escorregar, assim, encharcada de vontade. Empurrei só mais alguns centímetros, até a metade. Ele fechou os olhos, concentradíssimo, se segurando. Não resisti mais, desci descomprimindo todos os meus músculos até embaixo, subi, desci, apertando e soltando, dando tudo de mim, literalmente, enlouquecida. Ele urrou como jamais vi um homem urrar. Foi lindo.
Acabamos com o estoque de uvas, mamão papaia, cerejas, liquidamos com as castanhas, os damascos secos, os pãezinhos, manteiga não sobrou nem pra contar a história. Brindamos com suco, vinho, foi um banquete de nós mesmos. Não tenho dúvidas que o Mascarado sabia que eu estaria acompanhada e mandou esse presentinho divino só para me impressionar. Se foi essa a intenção, conseguiu ao cubo.
Não há nada que me conquiste mais do que alguém que tenha o dom de libertar os meus demônios. E me deixar livre para voar com eles. À tardinha, quando o Rafa foi embora, finalmente li o cartão. Era mesmo do Mascarado: “Estou chegando hoje à noite e TE QUERO. Que o início do seu dia comece maravilhoso. O fim dele, eu garanto”. Ula-lá!
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