terça-feira, 12 de junho de 2012

CLUBE DE SWING


Fui num clube de swing. Não sou grande frequentadora desses lugares, mais por falta de par do que por falta de vontade. Sai injustamente caro ir sozinha: o dobro do que custa a entrada de um casal. Infelizmente, nem sempre encontro alguém com a cabeça aberta o suficiente para me dividir com outros, ao vivo e a cores, numa boa. Mas sexta passada era aniversário do Artur, amigo bem íntimo, daquela turma libertina que já comentei e ele resolveu comemorar em grande estilo. Estavam todos lá: o Duda, a Nina, a Bebel, o John, a Silvinha, o Hugo e, claro, vários outros casais assíduos da casa. Eu não podia faltar.

Cheguei sozinha, o que não é muito legal. É, digamos, uma falta de respeito para com os outros. Mais ou menos como ir numa praia de nudismo e não tirar a roupa. Você passa duas mensagens: uma, que está com vergonha – e se tem vergonha, o que faz numa praia naturalista? Caso contrário, só pode ser por curiosidade – o que também desagrada aos nudistas, que não estão despidos para se exibir e sim como filosofia de vida, para se integrar à natureza. Conhecendo as regras, pedi desculpas à hostess. Expliquei que o meu delicioso par só chegaria mais tarde e que não queria perder o show de strip-tease das 21h - o que era a mais pura verdade.


O show começa pontualmente nesses locais, ninguém está ali para perder tempo. É uma espécie de aperitivo, uma lenha à fogueira da libido que estala e se retorce de vontade antes de pegar fogo. E tinha para todos os gostos: um mulherão daqueles de tirar o fôlego vestida provocantemente começou o ritual sensual para o delírio da ala masculina. Foi tirando camada após camada de roupa enquanto enfeitiçava a plateia com sua dança envolvente, caras e bocas convidativas, respiração ofegante, proximidade ofertante e proibitiva. Você podia vê-la, querê-la, possuí-la com a imaginação. A mão do Duda, ao meu lado, subiu num impulso quando ela chegou pertinho, louco para apalpá-la, mas lembrou-se que era proibitivo e a abaixou. Outra coisa, ao contrário, com certeza ele não impediu que apontasse firme para a lua.

O segredo de um bom strip-tease mora nas entrelinhas. O sucesso da performance depende muito mais do que o que você não mostra, insinua, do que o que você expõe. Você finge que vai tirar a calcinha, mas não tira. Puxa para o lado, pra cima, exibe o vislumbre do paraíso para, em seguida, jogar a pessoa de volta à realidade, à espera de um próximo momento divino. Você desabotoa o sutiã e na hora “H”, vira de costas. Você chupa o dedo indecentemente. Se esfrega, se apalpa, rebola, geme. Não tira os olhos do admirador. E quando você desenrola a luva ou a meia lentamente e joga em cima dele está dizendo “já, já, vou te dar muito mais”. Ele espera feito um cachorrinho que sabe que vai ganhar o osso ao se comportar. E você, boa dona, dá mais que o osso: dá a carne.

Strip-tease tem a ver com poder. O espectador é impotente diante do objeto de desejo, ele só pode ir até onde o outro deixar, só pode ver o que o outro mostrar, não pode tocar, não pode matar a vontade latente. Caso contrário, se fora às vias de fato, não é strip, é sacanagem. Por isso o feitiço: todo homem gosta de ser dominado quando sabe que vai ganhar o jogo. É um momento em que ele fantasia, fica pensando: “Ah, quando eu pegar você, vai ver o que é bom”. Ali, subjugado, ele arquiteta subjugá-la. Ali, de quatro, ele sonha cavalgá-la. Ele é o super-homem. Ele não pode nada, mas pode tudo. É a dança do acasalamento, com a vantagem dele não precisar suar, nem competir com outros. Não conheço nenhum macho que não goste de uma dança exclusiva da sua fêmea antes do início do fim.

Um deus grego entrou no pequeno palco, assim que a deusa saiu. Não sei de quem gostei mais, mas o próximo é sempre melhor do que o que já passou, não acham? Eu acho. Ele estava vestido com uma túnica da Idade Média e surgiu segurando duas velas acesas, uma em cada mão. Não dava para ver seu rosto, mas o contorno da roupa denotava um volume dorsal daqueles que a gente abraça gostoso e ainda sobra um bom naco de carne. A música vibrava, tum, tum, e fazia tremelicar corações, entre outros órgãos mais safadinhos. A cena me hipnotizou.

Ele soltou as velas no chão e foi tirando a capa bem devagar. A luminosidade refletida em sua pele brilhosa me deu vontade de escorregar por cima para ele resvalar pra dentro de mim. Devo ter soltado faíscas, fogos de artifício, algum sinal externo porque, no meio de tanta gente, ele me escolheu para fazer sofrer. Eu estava sentada virada para o palco com as pernas levemente afastadas. Ele parou na minha frente e se ajoelhou, apoiando nas minhas coxas, grudando nariz com nariz. Fiquei imóvel, feito uma cobra esperando o próximo movimento do oponente. Olho no olho, respirações ritmadas. E quando ele leu que podia dar o bote, fui eu quem dei, descolando um beijaço daqueles! Esse é outro grande barato do strip-tease: o sinal verde é dado sem palavras.

A terceira e última apresentação da noite foi com os dois juntos: Eros e Afrodite arrasando os nossos corações. Eles devem atuar há muito tempo juntos, porque a sintonia era total. Foi como ver um ato sexual ao vivo, sem absolutamente nada explícito a não ser uma sensualidade de outro mundo. A essa altura, quem não ficou em ponto de bala com os dois shows anteriores – coisa pra lá de improvável -, com este foi às alturas. Cheguei a ficar com um tic nervoso no maxilar, pronta para abocanhar o que quer que cruzasse à minha frente ou comigo. Em meio a esse clima eletroestático, eis que uma mão toca o meu ombro e uma voz máscula sussurra ao meu ouvido: “Cheguei”.

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