Fui numa sex shop abastecer o meu estoque de camisinhas, que
andava a zero. Comprei de todos os sabores, cores, texturas e tamanhos,
principalmente - menos P, porque nessa vida a gente encontra M que acha que é
G, P que acha que é M e G que se sente Extragrande, mas nunca encontra alguém que
pense que o seuzão é menor do que a média nacional. Então é melhor satisfazer a
todos os egos e ter sempre números vários para, na confusão, ninguém saber de
fato o que é, nem o que tem. Aliás, acho que nem são fabricadas camisinhas em
formas mínimas e, se são, com certeza o tamanho estampado é “super” alguma
coisa. Em matéria de sexo, vale mais o que você pensa que é do que a sua
genética.
Espalhei as camisinhas nas bombonieres da sala, da cozinha,
do quarto, feito tira gostos, pois que não são outra coisa. Vão bem a qualquer
hora do dia e da noite, são ótimos para se oferecer a uma visita e só de olhar
dão vontade de comer. Tenho camufladas até na área de serviço, nunca se sabe
onde um amasso bem dado pode nos levar. Minha faxineira acha graça, diz que
nunca viu uma casa que tem mais camisinha do que chocolate. “Chocolate dá
espinha, meu bem”, respondo sempre. Não preciso dizer que sexo faz bem pra
pele, preciso?
Pois ainda bem que não deixei pra amanhã essa comprinha
básica. Ao chegar em casa, mexendo na minha correspondência, descobri um
convite para um coquetel de lançamento de uma grife de roupas íntimas que eu
não tinha visto! E melhor: roupas íntimas masculinas! É, meu bem, os homens
andam vaidosos, investindo em underwears para a gente investir neles. E, da
minha parte, o feitiço dá supercerto. Não posso ver um cara com aquelas cuecas
justinhas tipo sungas mais largas, que parecem um short minúsculo, sabe? Ai,
não sei explicar, só sei agir: me atiro de boca. Tá certo que, se chegar no ponto
de ser apresentada ao underwear do rapaz, ele que não espere de mim outra
coisa.
O evento era às 20h e já passava das 20h30. Droga, precisava
voar. Joguei uns preservativos de morango na bolsa, prendi os cabelos
selvagemente com um grampo, me atirei no chuveiro, tomei um banho de perfume
floral que hoje eu estava a fim de atrair um enxame de zangões. Como sabia que
estava atrasada, nada melhor do que chegar arrasando num salto 15, com a batata
da perna rija e pedindo para ser mordida, um vestido curto e solto jogado
displicentemente como quem implora para ser tirado e atirado longe - sem sutiã,
claro -, e com aquele ar de magnitude que enfeitiça até quem não está no nosso
campo de visão, mas que percebe, pela reação ouriçada da galera, que chegou alguém
que vale a pena ser olhado.
Deu certo. Adentrei o coquetel feito um furacão, deixei meia
dúzia atordoada, babando, à direita, outra dúzia e meia de queixo caído, à
esquerda, passei reto e abri um sorriso daqueles de petrificar corações ao
cumprimentar a dona da grife, minha amiga. Foi ótimo, me senti plena.
Experimente fazer isso um dia, experimente sair de casa e deixar no armário
todos os seus complexos, todos os seus medos, todas as suas inseguranças. Acha
que tem nariz grande? Pois ele vai ser o seu charme. Peito pequeno? Bota uma
blusa transparente, não tem homem que resista a um mamilo se oferecendo. Canela
grossa? Decote nas costas mostrando o cofrinho é tiro e queda, ninguém vai
olhar para outra coisa. Produza-se, valorize-se. E saia imaginando que você é a
melhor, a mais bonita, a mais inteligente. Faça isso nem que seja uma vez só
pra testar. Você vai se surpreender com o resultado. E não vai querer ser outra
na vida.
Uma coisa que agrega valor à nossa imagem é não ficar muito
tempo nesse tipo de evento. Ao contrário do que pensa a maioria, que o
importante é ver e ser vista, o que importa mesmo é causar impacto feito uma
aparição. Fique o tempo necessário para ser inesquecível. Chegue, cumprimente, sorria, borrife seu
perfume aqui e ali e suma do mapa. Eles vão ficar te procurando e, caso você
tenha garimpado alguma joia rara e achar que vale a pena investir, volte mais
tarde. Ele vai estar lá te esperando, vai por mim. Foi o que eu fiz.
Assim que o desfile começou - sim, sim, tinha desfile com
maravilhosos de sunguinha! - olhei para o lado e levei um susto: dei de cara
com um ex-chefe de quem fui muito, muito a fim. Nunca tivemos nada porque o
chefe dele me queria mais que dinheiro e aí já viu, sinuca de bico na certa.
Para preservar um, me preservei: pedi demissão. E ele era moço pra casar, nunca
fui lá mui casadoira, não sem experimentar o produto antes, com direito a teste
de qualidade e quantidade. E quer situação mais desagradável do que dizerem que
você foi promovida não pelos méritos, mas pelos dons? Eu, que sempre me
considerei inteligente e bem dotada, não quis macular meu amor-próprio. Saí
fora antes do barco afundar e deixei os dois a ver navio.
Vi que a pupila dele dilatou quando nossos olhos se cruzaram.
E notei que não usava aliança em nenhuma das mãos. Êba, abstinência, carência,
disponibilidade, instinto de perpetuação da espécie, qualquer desses pode ser
um bom motivo para um solteiro cair na nossa rede. “Uau, uau, uau...”, foi o
que ele disse, também surpreso em me ver. “Mundinho pequeno”, respondi,
mordendo o lábio. Um modelo morenaço parou bem na nossa frente com o tal
modelito que comentei que me enlouquece. A grossura do calibre do garoto estava
bem demarcada, assim, pro lado. Senti uma coisa quente borbulhar entre minhas
pernas. Excitação. Tesão.
“Você continua absurdamente desejável”, meu ex-chefinho sussurrou
no meu ouvido. Palavras pescadas no dicionário de uma mente complexa. Ele podia
ter dito “gostosa”, “você está linda” ou qualquer outra coisa simples e direta.
Mas o Toni era isso: incomum e ousado, retrógrado e cuidadoso, polido e seguro
de si. Não espere jamais ouvir dele um lugar comum. Confesso que o meu coração
disparou. “Seu desejo é uma ordem”, sorri. Ele entendeu a brincadeira: era o
que eu respondia quando ele me passava uma tarefa. Mas entendeu mais e ficou na
dúvida: era um sinal verde da minha parte?
Um novo modelo veio e foi e outro e outro e outro ainda. O
ambiente começou a ficar quente ou será que eu é que estava pegando fogo?
Comecei a achar que, se não fosse embora naquele minuto, entregaria o jogo.
Hoje estava a fim de jogar alto. E ganhar. “Champagne?”, me ofereceu uma taça.
Pelo visto, ele estava a fim de jogar baixo. “Não posso, estou dirigindo. E
tenho outro evento ainda hoje. Aliás, preciso ir”, falei. Abri a bolsa para
pegar a chave do carro e fiz questão que ele visse meu estoque de camisinhas
farfalhando. Tornei a encará-lo, desta vez com um sorrisinho maroto. “Talvez eu
volte mais tarde”, disse enquanto lhe dava dois beijinhos. Ele me puxou pela
mão: “Volta?”.
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