A Silvinha foi embora sob protestos. Por ela, ficava comigo
até o sol raiar e confesso que a ideia não me era de todo desagradável. Muito
pelo contrário, ela entrou numa academia recentemente e está com um traseiro
deliciosamente sarado e coxas musculosas e suculentas que, em conjunto, chegam
quase a ofuscar aquela boquinha linda e doce de beijar que tanto adoro. Mas eu
estava curiosíssima para ler as mensagens do meu Mascarado lá no Messenger. Ler
sozinha. Uma coisa é compartilhar com uma amiga os assuntos pertinentes ao
homem da gente, outra coisa é compartilhar “o” homem. A não ser que a suruba
seja instituída e de comum acordo entre as partes, prefiro degustar meus
parceiros com exclusividade. Ainda mais um peixão raro que caiu na minha rede
como esse.
Lá estava ele, alucinado por mim. Da meia-noite às 3h da
manhã, hora em que consegui me desenlear dos braços de polvo da Silvinha, da
pele de seda da Silvinha, das mordiscadas arrepiantes no lóbulo do meu ouvido,
ula-lá, da Silvinha, o Mascarado me mandou infinitas mensagens. Infinitas como
são as estrelas que vi quando estive com ele dentro de mim em nosso último
encontro. Último e primeiro. Primeiro de uma série - o segundo estava prestes a
acontecer. E se dependesse de mim, ainda esta noite.
“ONDE ESTÁ VOCÊ???”, foi o maior elogio que li na tela do
computador. Que sou gostosa, maravilhosa, deliciosa, um colosso, um furacão
sexual, uma deusa do erotismo, essas fantasias masculinas que a gente estimula
e incorpora para aumentar o Ibope, já ouvi mil vezes, entre outras coisas
safadamente impublicáveis. Mas este “ONDE ESTÁ VOCÊ???”, assim, desesperado,
faminto, como um animal ferido, urrando de dor pela minha ausência, pela
urgência em me ver, me deixou excitadíssima.
Levantei, peguei uma taça de champanhe (sempre champanhe!),
dei um gole sôfrego e me recoloquei na frente do micro. É claro que eu podia
fazer charminho, escrever uma respostinha infantil do tipo “Oiiiii!!!” e ficar
enrolando até ele derramar mais alguns quatrocentos elogios e convites. É óbvio
que eu poderia também ficar falando da noite passada, de como foi perfeita e
tudo o mais. Mas pra quê gastar energia com palavras quando se pode gastar numa
cama suando a dois? “Estou aqui e quero tudo em dobro”, foi a minha resposta,
“agorinha mesmo”.
Se ele não estivesse vestido de justiceiro mascarado, diria
que foi “the Flash”. Desta vez, chegou antes de mim ao motel. Bem antes. Na
verdade, ele nem foi embora. Contou-me que tinha dormido até tarde e resolvido
ficar direto por lá, tamanha autoconfiança que iria me encontrar novamente.
“Sei que deixei marcas não só nesse teu corpo lindo”, me puxou e tascou um
beijaço, assim, logo de cara. Minha máscara ficou meio torta, mas foi a
salvação para, ao me ajeitar, recompor também a minha euforia, que tentava
desesperadamente se exibir sem planejamento através dos meus poros arrepiados.
Que homem é esse!!!
Caímos no chão enrolados um no outro e só então percebi o
tapete de pétalas que ele armou feito um ninho macio. E foi tirando a minha
capa e beijando o meu pescoço e me pegando de jeito. Suas mãos percorreram o
meu corpo com firmeza e lentamente, apesar das nossas respirações ofegantes. Eu
estava seminua, só de lingerie por baixo e botas de couro de cano altíssimo.
Ele foi abrindo o fecho e, conforme minha panturrilha se revelava, ia passando
a língua morna e abocanhando aqui e ali. Ao mesmo tempo, com impressionante
destreza, arredou a calcinha para o lado e os dedos dele fizeram misérias em
outras fendas minhas. Pensei: “Vai ser muito amadorismo eu desmaiar de prazer”.
Mas era essa a real vontade.
Soltei um gemido grave, sonoro, um urro de caça abatida de
tesão. Deitada no leito de flores, eu estava totalmente entregue, como se
tivesse levado uma ferroada imobilizante e, não, ferrão algum tinha me picado.
Ainda. Abri os olhos e vislumbrei aquele dorso triangular reluzindo à luz de
velas, inteiro, compacto, másculo, uma verdadeira perdição de músculos bem
definidos e sob medida, inteirinho pra mim. De repente, um sentimento mais que
selvagem brotou das minhas entranhas. Ergui-me num impulso, me agarrei nos cabelos
dele, enlouqueci. Grudados, molhados, descontrolados, nos engalfinhamos feito
serpentes, rolamos na relva da luxúria, viramos um croquete de rosas vermelhas.
Ele me colocou de pé, não vi bem como, contra a parede.
Segurou-me pelas ancas, por trás e, ao invés de fazer o que eu tinha certeza
que ia fazer, me surpreendeu mais uma vez imprensando o corpo e o mastro ao meu
corpo, sem penetrar, deixando um rastro. Um rastro de excitação. Foi
escorregando devagarzinho, barba por fazer arranhando gostoso, mãos cheias dos
meus peitos duros, da minha cinturinha fina, da minha barriga lisinha, mãos
mágicas que foram descendo junto com ele, junto com todo aquele macho, mastro,
mãos, máscara, tantos emes que eu só conseguia dizer “MMMMM!!!”. Caiu de
joelhos, de boca no meu lado “b”.
Eu me abri inteira, buraco negro sugando o espaço sideral. Ele,
tão imperativo, sabedor dos caminhos, senhor dos destinos, não conseguiu evitar
a atração, o ímã da oferta proibitiva e espontânea, não teve forças para
impedir que o seu convexo encaixasse no meu côncavo. E a grossura de um punho
me arrombou a alma e todas as seivas lubrificaram nossa explosão Big Bang.
Agora estou aqui, sentada meio de lado, escrevendo,
absolutamente de quatro por esse Mascarado do além, que encheu o meu céu de
estrelas, planetas, luas e sóis fora de órbitas, que me deixou rodando feito um
cometa desgovernado por um universo que até então eu acreditava conhecer como a
palma da minha mão: o dos desejos mundanos. Não sei quem ele é, não sei de onde
veio, menos ainda para onde vamos. Mas estou adorando tudo isso. Ele conseguiu
fazer com que eu me perdesse de mim mesma. Me perdi para encontrá-lo e através
dele, redescobrir a Volúpia que há em mim. Por trás de nossas máscaras, há
muito mais do que identidades escondidas...
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