terça-feira, 5 de junho de 2012

EM ÓRBITA


A Silvinha foi embora sob protestos. Por ela, ficava comigo até o sol raiar e confesso que a ideia não me era de todo desagradável. Muito pelo contrário, ela entrou numa academia recentemente e está com um traseiro deliciosamente sarado e coxas musculosas e suculentas que, em conjunto, chegam quase a ofuscar aquela boquinha linda e doce de beijar que tanto adoro. Mas eu estava curiosíssima para ler as mensagens do meu Mascarado lá no Messenger. Ler sozinha. Uma coisa é compartilhar com uma amiga os assuntos pertinentes ao homem da gente, outra coisa é compartilhar “o” homem. A não ser que a suruba seja instituída e de comum acordo entre as partes, prefiro degustar meus parceiros com exclusividade. Ainda mais um peixão raro que caiu na minha rede como esse.

Lá estava ele, alucinado por mim. Da meia-noite às 3h da manhã, hora em que consegui me desenlear dos braços de polvo da Silvinha, da pele de seda da Silvinha, das mordiscadas arrepiantes no lóbulo do meu ouvido, ula-lá, da Silvinha, o Mascarado me mandou infinitas mensagens. Infinitas como são as estrelas que vi quando estive com ele dentro de mim em nosso último encontro. Último e primeiro. Primeiro de uma série - o segundo estava prestes a acontecer. E se dependesse de mim, ainda esta noite.


“ONDE ESTÁ VOCÊ???”, foi o maior elogio que li na tela do computador. Que sou gostosa, maravilhosa, deliciosa, um colosso, um furacão sexual, uma deusa do erotismo, essas fantasias masculinas que a gente estimula e incorpora para aumentar o Ibope, já ouvi mil vezes, entre outras coisas safadamente impublicáveis. Mas este “ONDE ESTÁ VOCÊ???”, assim, desesperado, faminto, como um animal ferido, urrando de dor pela minha ausência, pela urgência em me ver, me deixou excitadíssima.

Levantei, peguei uma taça de champanhe (sempre champanhe!), dei um gole sôfrego e me recoloquei na frente do micro. É claro que eu podia fazer charminho, escrever uma respostinha infantil do tipo “Oiiiii!!!” e ficar enrolando até ele derramar mais alguns quatrocentos elogios e convites. É óbvio que eu poderia também ficar falando da noite passada, de como foi perfeita e tudo o mais. Mas pra quê gastar energia com palavras quando se pode gastar numa cama suando a dois? “Estou aqui e quero tudo em dobro”, foi a minha resposta, “agorinha mesmo”.

Se ele não estivesse vestido de justiceiro mascarado, diria que foi “the Flash”. Desta vez, chegou antes de mim ao motel. Bem antes. Na verdade, ele nem foi embora. Contou-me que tinha dormido até tarde e resolvido ficar direto por lá, tamanha autoconfiança que iria me encontrar novamente. “Sei que deixei marcas não só nesse teu corpo lindo”, me puxou e tascou um beijaço, assim, logo de cara. Minha máscara ficou meio torta, mas foi a salvação para, ao me ajeitar, recompor também a minha euforia, que tentava desesperadamente se exibir sem planejamento através dos meus poros arrepiados. Que homem é esse!!!

Caímos no chão enrolados um no outro e só então percebi o tapete de pétalas que ele armou feito um ninho macio. E foi tirando a minha capa e beijando o meu pescoço e me pegando de jeito. Suas mãos percorreram o meu corpo com firmeza e lentamente, apesar das nossas respirações ofegantes. Eu estava seminua, só de lingerie por baixo e botas de couro de cano altíssimo. Ele foi abrindo o fecho e, conforme minha panturrilha se revelava, ia passando a língua morna e abocanhando aqui e ali. Ao mesmo tempo, com impressionante destreza, arredou a calcinha para o lado e os dedos dele fizeram misérias em outras fendas minhas. Pensei: “Vai ser muito amadorismo eu desmaiar de prazer”. Mas era essa a real vontade.

Soltei um gemido grave, sonoro, um urro de caça abatida de tesão. Deitada no leito de flores, eu estava totalmente entregue, como se tivesse levado uma ferroada imobilizante e, não, ferrão algum tinha me picado. Ainda. Abri os olhos e vislumbrei aquele dorso triangular reluzindo à luz de velas, inteiro, compacto, másculo, uma verdadeira perdição de músculos bem definidos e sob medida, inteirinho pra mim. De repente, um sentimento mais que selvagem brotou das minhas entranhas. Ergui-me num impulso, me agarrei nos cabelos dele, enlouqueci. Grudados, molhados, descontrolados, nos engalfinhamos feito serpentes, rolamos na relva da luxúria, viramos um croquete de rosas vermelhas.

Ele me colocou de pé, não vi bem como, contra a parede. Segurou-me pelas ancas, por trás e, ao invés de fazer o que eu tinha certeza que ia fazer, me surpreendeu mais uma vez imprensando o corpo e o mastro ao meu corpo, sem penetrar, deixando um rastro. Um rastro de excitação. Foi escorregando devagarzinho, barba por fazer arranhando gostoso, mãos cheias dos meus peitos duros, da minha cinturinha fina, da minha barriga lisinha, mãos mágicas que foram descendo junto com ele, junto com todo aquele macho, mastro, mãos, máscara, tantos emes que eu só conseguia dizer “MMMMM!!!”. Caiu de joelhos, de boca no meu lado “b”.

Eu me abri inteira, buraco negro sugando o espaço sideral. Ele, tão imperativo, sabedor dos caminhos, senhor dos destinos, não conseguiu evitar a atração, o ímã da oferta proibitiva e espontânea, não teve forças para impedir que o seu convexo encaixasse no meu côncavo. E a grossura de um punho me arrombou a alma e todas as seivas lubrificaram nossa explosão Big Bang.

Agora estou aqui, sentada meio de lado, escrevendo, absolutamente de quatro por esse Mascarado do além, que encheu o meu céu de estrelas, planetas, luas e sóis fora de órbitas, que me deixou rodando feito um cometa desgovernado por um universo que até então eu acreditava conhecer como a palma da minha mão: o dos desejos mundanos. Não sei quem ele é, não sei de onde veio, menos ainda para onde vamos. Mas estou adorando tudo isso. Ele conseguiu fazer com que eu me perdesse de mim mesma. Me perdi para encontrá-lo e através dele, redescobrir a Volúpia que há em mim. Por trás de nossas máscaras, há muito mais do que identidades escondidas...

Nenhum comentário: