Recebi um email, desses que não têm dono, com uma historinha que casou muito bem com o assunto que eu ia abordar hoje. Diz mais ou menos assim: um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, e no centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas.
Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada apesar da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada. Um segundo foi substituído e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui".
É mais ou menos isso que acontece em relação ao sexo. Desde que o mundo é mundo ele existe no reino animal, mas em algum momento da história da humanidade alguém decretou: “É uma pouca vergonha!”. E desde então estamos fadados a acreditar que a prática desse saudável e delicioso exercício é sujo, feio, imoral e vergonhoso. Desde então somos doutrinados a acreditar que só o papai-e-mamãe para a procriação é permitido - e olhe lá, só casando, heim? - e todas as outras variáveis e orifícios são coisa de gente imunda. Sexo? Só entre um homem e uma mulher. Sexo? Só pela frente, por trás é pecado. Sexo? Só com amor. Sexo? Ui, essa palavra me dá arrepios.
Ah, pobres mortais que ainda batem nos macacos que se permitem agarrar suas bananas! Eles não sabem que podem, que devem, não sabem o que é bom. Sexo com o outro sexo é bom. Sexo com o mesmo sexo é ótimo! Sexo de manhã, à noite, pela internet, entre quatro paredes, entre várias pessoas, num motel, no meio do mato, na praia, sexo entre amigos, entre amantes, sexo para dar, sexo para vender, sexo para consolar, para animar, para gastar calorias, sexo quando, onde e como quisermos.
E sim, mulheres, estamos incluídas nessa liberdade de usufruto de nosso corpo e vontades. Alguém, algum dia, também disse: “Isso só vale para os homens”, e nós assinamos embaixo! Está na hora de pararmos de surrar-nos mutuamente e lutarmos pelo direito de subir na escada. De pendurarmos as bananas no pescoço e sair por aí a reivindicar mais que igualdade, a liberdade de exercermos nossos instintos.
Ontem, me aconteceu um fato que originou esta crônica: ao sair da farmácia, serelepe e faceira no meu esvoaçante e transparente vestidinho de flores amarelas, uma senhora que estava no caixa, atrás de mim, deixou escapar: “Que indecência!”. Não virei pra trás para responder por que respeito os mais velhos. E porque uma vida inteira reprimida e “recatada” não se muda com uma frase ou outra. Mas me deu pena daquela senhorinha.
E me dá mais pena ainda das jovens mulheres que ainda pensam e agem como se vivessem na Idade Média, as que não se permitem, as que não questionam, as que sucumbem e acatam conceitos e valores arcaicos que nos desvirtuam e desvalorizam. As que têm uma vida inteira pela frente sem saber o tesão de dar por trás. As que sofrem caladas, as que não se assumem, as que não entram em contato direto com a própria essência, as que não se libertam de si mesmas.
Indecência é exibir e recuar. É ofertar, mostrar, convidar com curvas e requebros e na hora “H” fugir da raia com não possos e não devos. É não ousar. Indecência é não experimentar novas posições na cama ou não dar na primeira noite porque “isso é coisa de mulher fácil”. Ou, ao contrário, fazer tudo avassaladoramente sem estar a fim. Seja fiel às suas vontades. Não é porque com o parceiro passado você fez chover que agora com este tem que dançar a dança da chuva.
Cada pessoa é única, cada sintonia é única, você é única, mas é várias. Não precisa ser sempre igual, não precisa ser sempre diferente. Seja autêntica. Respeite-se. Cada tesão tem uma medida, o que deu prazer com um, não necessariamente vai dar com outro - ou outra. E este é o grande barato do sexo. Sim, o sexo pode ser barato. E nem por isso você vai valer menos. O email lá do início acaba com a seguinte frase: "É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito". Pense nisso.
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