sábado, 18 de agosto de 2012

LUA DE MEL


Bem, bem, bem. Uma semana intensa com o mascarado se passou e é hora de voltar à vida real. Ah, como isso é difícil, não é mesmo? Por que a vida não pode ser uma eterna lua de mel? Viver de amor é tão mais fácil. E tão bom! Não há preocupações, só prazeres, não há erros, só acertos, não há tristezas, só alegrias e, principalmente, não há o mundo lá fora, só o mundo de dentro: ele dentro de você, você dentro dele. Mas chega uma hora da simbiose em que não se sabe mais quem é quem e você começa a se transformar nessa outra pessoa que também é você, mas que desconhecia.

Enquanto a paixão está latente, ótimo, você se sente a melhor pessoa que poderia ser: linda, feliz, sorridente, de bem com a vida. Aos poucos, porém, a convivência vai trazendo situações para serem superadas que podem ir lentamente guiando você para o ciúme, o sufocamento, a possessão, a neurose, o egoísmo e outros sentimentos infantis mal resolvidos. E, se você não se cuidar, vai se perdendo de si mesma. Você sabe quem você é? E o que gosta de ser? O mascarado me convidou a ficar com ele mais um mês. Eu disse: “Adoraria, mas não posso”. Não posso me perder de mim mesma.

domingo, 5 de agosto de 2012

KIT BÁSICO


O mascarado precisou trabalhar e aproveitei para dar uma mudada no visual. Nada muito radical, mas o suficiente para me transformar numa nova mulher. Homem gosta disso, de acordar com uma loira e ir dormir com uma morena. Pois hoje virei ruiva. Acho que tons quentes, acobreados, têm tudo a ver com o inverno, independente da moda. Então, fiz luzes avermelhadas nos cabelos. Fiquei lindíssima – vocês sabem que modéstia não combina com mulheres ousadas, né? Me adorei! Dei um banho de creme, também, e não fiz escova porque quero minhas longas madeixas selvagens, bem crinas, boas de cavalgar.

Depois da manicura, pedicura, essas duas palavras tão feias e tão necessárias na nossa vida, encarei uma depilação e uma massagem ayurvédica para repor as energias, que não sou de ferro. Pensam que é fácil levar uma vida libertina? Praticamente troca-se o dia pela noite, isso quando a noite não vira dia e emenda com o dia seguinte. Sim, é maravilhoso, divertido e, SIM, é um tesão. Mas mais que tudo isso, é um esporte: requer dedicação, treino intensivo para não perder a forma e pesquisa de novas técnicas, acessórios e parceiros - não para aumentar, porque a quantidade é o que menos importa, mas para melhorar a performance na busca pelo prazer. Comparo à vida de atleta: no meu caso, uma atleta sexual. Não ganho medalhas, mas quase sempre estouro um champanhe pra comemorar. Ula-lá!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

LOTERIA


Tirei a sorte grande. E não foi por que o Mascarado me levou para almoçar no dia seguinte, no Bar des Arts, um restaurante bacanérrimo de São Paulo, com direito a carpaccio de entrada, filé mignon de saída e cineminha de sobremesa – pornô, claro, daqueles bem fuleiros que a gente entra só pra dar uma rapidinha e depois sai rindo, mais leve, achando graça nas taras alheias e na nossa própria falta de bom senso. Tem certas coisas que quebram totalmente o romantismo, mas quem disse que uma paixão vive só de rosas vermelhas e declarações de amor ao pé do ouvido? É bom ser oito e oitenta, ser a lady na mesa e a vadia na cama. Eles gostam, ficam loucos por nós. E a gente adora!

Tampouco foi pela very happy hour no Skye Bar do Hotel Unique regada a martini doce com cereja e discretos beijos apimentados com arrepios promissores e um pôr do sol fantástico. Nem por que ele alugou uma suíte no hotel e me arrastou pra lá, assim, com urgência, algo inesperadamente fora da programação, mas circunstancialmente necessário devido ao alto grau de tesão acumulado pelo pôr do sol apimentado com cerejas fantásticas e promissores beijos arrepiantes.

domingo, 22 de julho de 2012

SURPREENDENTE


Se há uma coisa verdadeiramente surpreendente no Mascarado é a capacidade dele fazer com que a surpresa seguinte seja sempre melhor que a anterior. Minha noite foi uma sequência de encantamentos e não recordo bem em que momento de exaustão ou felicidade adormeci. Quando despertei, estava no quarto dele, na cama king size, em meio a alvos lençóis e travesseiros de pena de ganso. Olhei para o lado e não o vi. Levei a mão ao rosto e sim, minha máscara estava lá. Por um segundo achei que ele pudesse ter tido a curiosidade de saber quem eu era. Quem eu sou. Porque, com certeza, depois dessa noite, não sou mais o que eu era antes.

Em algum lugar do quarto, talvez por todos os cantos, tocava delicadamente Twilight Song, do Charlie Haden. Eu sei pois sou louca por esse álbum (Night and the City) que ele gravou com o Kenny Barron. Agora, como o Mascarado descobriu, não me pergunte. Às vezes eu acho que ele lê a minha mente. Não pode ser uma simples coincidência.

Desci da cama, nua, e só então percebi a coisa mais inacreditável: o quarto estava cheio da minha presença. Eu estava em todos os lugares, em todas as paredes! Na penumbra, iluminadas por pequeninas luzes direcionadas, fotografias de partes do meu corpo, em preto e branco, estavam emolduradas e penduradas para onde quer que olhasse. Grandes coxas, bunda, lábios, colo, pernas, pés, mãos, queixo, pescoço, púbis, todas as minhas curvas e reentrâncias se exibiam em poses sensuais, lindas, me transformando no abecedário da anatomia – e porque não da alma?, feminina. Fiquei absolutamente atordoada, estupefata, maravilhada, não sei que palavra usar.

sábado, 21 de julho de 2012

PODEROSA E SUBMISSA


Fenomenal: raro, singular, extraordinário, admirável, formidável, espantoso, assombroso, surpreendente, gigantesco, descomunal. Fiquei em dúvida sobre qual sinônimo pescado no dicionário usar, usei todos. A casa do mascarado nos Jardins, em São Paulo, era algo como ele: indescritível. A entrada era camuflada por plantas, muitas plantas, mal se via a fachada. Mas quando os portões de madeira maciça se abriram, revelaram um verdadeiro Jardim do Éden, com esculturas aqui e ali e uma pontezinha linda que cruzava um pequeno lago com uma fonte levava a um recanto com redes e futons sobre estrados. Foi ali que nos instalamos.

A noite estava agradável, uma brisa soprava fininho, daquelas que não mata de frio, mas arrepia a pele. A lua espiava entre nuvens e, além dela, duas tochas eram tudo o que iluminava o ambiente. Uma música tribal, densa, excitante, amornava o ar. Despojado, ele tirou os sapatos e, com os pés descalços, se dirigiu a uma mesinha de canto onde havia uma bandeja com bebidas. Voltou com dois cálices pequenos. Olhei para aquela imagem, Deus grego mascarado de calça cargo e camisa cheia de amarras, entreaberta no peito, sorriso e covinhas convidativos, vindo em minha direção. Suspirei. Ele parou no meio do movimento e, depois de alguns segundos me contemplando, disse: “Nunca vou esquecer este momento”. Tirou as palavras da minha boca.

sábado, 14 de julho de 2012

ARIGATÔ


Às 18h, o interfone tocou. Eu estava no quarto, afogada em rendas e espartilhos, na maior dúvida: o que vestir? Raramente entro em crises deste tipo porque só tenho no armário peças que amo, mas hoje não estava em climinha de amor: fervia de paixão. Precisava de uma lingerie que transbordasse meu rio incandescente feito barreira que se rompe com a intensidade não da água, mas do fogo. Bééép. O interfone. Era o porteiro anunciando a entrega de uma encomenda. “Encomenda?”, não fazia ideia do que se tratava. Mandei subir.

Um senhor com quepe e luvas brancas, muito sério, me estendeu uma caixa com um laço enorme de presente. “Da parte do senhor Jorge, com a sua licença”, e se retirou. Fiquei segurando o pacote, atordoada. Parecia cena de filme - diretor, qual é a minha fala mesmo? Perplexa, mas absolutamente encantada, desembrulhei o laçarote e abri a tampa. Em meio a um papel de seda finamente embrulhado, estava um conjunto de lingerie perolado, lindíssimo, com uma deslumbrante máscara de porcelana chinesa. E uma carta. 

terça-feira, 10 de julho de 2012

SURPRESINHA MATINAL


Acordei com a campainha tocando. Droga, quem seria num domingo de manhã? Sentei na cama, olhei pro Rafa ao meu lado, que abriu os olhos e sorriu. Exclamei: “Que preguiça de levantar”. Desabei sobre o travesseiro, me esticando feito uma gata manhosa. Esperamos soar uma segunda vez, mas nada aconteceu. Minto. Começou a acontecer. O Rafa beijou a minha mão com uma boca molhada e gostosa e foi me puxando como carretel de pescaria. Fui desfalecendo dengosa. Quando ele passou do ombro, já estava chegando no pescoço, béééé, a campainha tocou de novo.

“Quer que eu atenda?”, perguntou. “Deixa, acho que sei o que é”, pensei na síndica e na possível queixa ao meu queridinho ter estacionado o carro na vaga do Patrick, um vizinho que está viajando. Joguei a camisa social do Rafa sobre o corpo e abri a porta seminua. Era o zelador com uma cesta de café da manhã enorme, coisa de cinema. Uau! De quem seria? Havia um cartão no formato de uma máscara. Senti um arrepio na espinha, meu coração disparou, só podia ser ele: o Mascarado. Segurei junto ao peito, mas não li. Não queria estragar o fim de semana tão gostoso com um dos meus mais antigos e queridos casos.