segunda-feira, 23 de abril de 2012

SEXO LIVRE


Ser mulher é uma conquista. A gente nasce mulher, mas para exercer a plenitude do gênero, ainda hoje, é preciso ter peito. Não estou falando daquele turbinado adquirido em clínicas de cirurgia plástica. Refiro-me à coragem, à ousadia, a não ter medo de reivindicar direitos que na lei são para todos, mas nas entrelinhas só beneficiam aos homens: a lei do sexo livre. Nunca ouviu falar dela? Pois é, a maioria das mulheres nem sabe que ela existe e que dela são beneficiárias. Mas é bom começar a divulgar. A lei diz mais ou menos o seguinte:


Toda mulher tem o direito de usufruto do próprio corpo. Isso significa que ela pode usar e abusar das suas curvas e orifícios seja para dar, emprestar, alugar ou vender. Só a ela compete avaliar o que é ou não um bom negócio. O que é ou não seu desejo. Quem merece ou não a sua entrega. O que vai ou não lhe dar prazer. Se quer qualidade ou quantidade ou as duas coisas, ou nenhuma, em separado ou tudo ao mesmo tempo. O corpo é dela e o juízo, ou a falta dele, também.

Toda mulher tem o direito de vestir roupas provocantes e sensuais e minimalistas para se sentir bem, ou por qualquer outro motivo, seja vaidade, carência, por moda ou questão de estilo, sem necessariamente estar “pedindo” a um homem para atacá-la, agredi-la, violentá-la, violá-la, estuprá-la, chamem como quiser. Para pedir temos a boca. Falar também é um direito da mulher.

Toda mulher que é também mãe tem o direito de não gostar de dupla jornada, de chegar em casa cansada e colocar os pés pra cima, tomar um banho, relaxar. Se der sorte, tem direito também a uma massagem. E beijo na boca, no pescoço e o que mais a criatividade do outro aflorar e ela permitir. Toda mãe tem o direito de presentear a filha com um carrinho e o filho com uma boneca sem ter que ouvir comentários desestimulantes ou piadinhas maliciosas. Meninos não viram pais? Meninas não dirigem? A igualdade dos sexos virá através de uma educação igualitária. E toda a mãe tem o direito de tirar férias de suas crias sem culpa. Para simplesmente ser mulher.

Toda esposa tem o direito de não estar a fim de transar com o marido, assim como, ao contrário, tem o direito de sugerir, fantasiar, realizar os próprios fetiches. Toda mulher tem direito de não gostar de cozinhar, passar, lavar, ou de amar fazer tudo isso, mas só fazer quando achar que vale a pena para si ou para terceiros. De administrar a energia que sobra do seu dia e canalizá-la para o seu apetite sexual, se essa for a sua vontade. Se isso incluir o parceiro ou parceira, bom para os dois. Caso contrário, o prazer solitário é mais que um direito: é amor-próprio.

Toda mulher tem o direito de escolher uma rotina sexual remunerada, como profissão, ou não remunerada, como opção de vida – uma espécie de trabalho voluntário. Toda mulher tem direito a dar mais que chuchu na serra, seja em sonhos ou no mundo real, seja casada ou solteira, viúva, desquitada, para a mesma pessoa ou para várias, para o marido, o namorado, o amigo, para um conhecido ou um desconhecido, para um cliente, para o mesmo sexo ou diferente cor, conforme os compromissos que assumiu consigo mesma, com algum cartório, com sua consciência e seu travesseiro.

Toda mulher tem direito a ter opinião própria e não ser induzida a agir e pensar mecanicamente. A se vestir mecanicamente. A se comportar feito um robô. Tem o direito de ser o que é e não o que querem que ela seja. Gorda, magra, loira, morena, baixa, alta, negra ou branca, tem o direito de fugir de estereótipos e de dar e receber prazer sexualmente independente de padrões pré-concebidos. Toda mulher tem o direito de amar. E de se amar.

Toda mulher tem o direito de contar com a solidariedade das outras mulheres. Na prática não é muito o que acontece, infelizmente. Se nós, mulheres, soubéssemos calar em vez de caluniar, entender em vez de condenar, aceitar as diferenças em vez de repeli-las, a nos enxergarmos como aliadas em vez de concorrentes, se fôssemos mais unidas, talvez o mundo tivesse menos espaço para as desigualdades entre os sexos e não precisássemos sair queimando sutiãs em praça pública para nos fazer notar. Não podemos andar sem camisa no verão, mas um dia a gente chega lá.

Sexo não é só o que se faz. Sexo é o que se é. E o que a gente conquista. Eu, Verônica Volúpia, pratico o sexo livre. E você?

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