sexta-feira, 20 de abril de 2012

AH, A SILVINHA...


Depois do beijo sensacional da Silvinha, minha sorte mudou para muito, muito melhor. Por incrível que pareça, sem saber jogar pôquer, comecei a ganhar todas. E todos. Todos os olhares, todos os sorrisos, todos os toques por cima e por baixo da mesa. Foi como se aquela boquinha perfeita tivesse me dado poderes de Loreley: eu falava e os experientes marujos se atiravam aos meus pés, eu levantava para tomar um ar na janela, alguém vinha por trás – pela frente, pelo lado – me lamber, dar amassos, tirar uma casquinha gostosa. O jogo em si ficou em segundo plano. O plano agora era o horizontal.

A mesa virou um mero suporte de vontades. As cartas ferviam, olhares pegavam fogo. Cada rodada era uma peça de roupa que rodava. Meu vestido, meias de seda, soutien, foram parar no lustre. Todos estavam enlouquecidos pagando pra ver. E quando me deitei sobre as cartas em protesto contra um Às de ouro que não veio? Ninguém reclamou. O Júlio caiu de boca nos meus peitos, fazia círculos com a ponta da língua que me deixaram inteirinha um ouriço do mar. O Gílson foi abrindo o meu espartilho umbigo acima, ponto por ponto, presinha por presilha, com a ajuda de um gelo – que delírio! – achei que fosse desmaiar. E a Silvinha, ah, a Silvinha fez jus ao já comentado belo poder de sucção. O erotismo estava feito faíscas no ar.


Adoro podólatras - por favor, não confunda com aquele outro gênero cuja tara só Freud explica e Deus perdoa. Podólatras são adoradores de pés. E o Gilson é um mestre no assunto. Ele consegue transformar uma parte frequentemente ignorada da nossa anatomia no núcleo do prazer. Descobre terminações nervosas que você nem sabia que existiam, mas quando se depara com elas não sabe como conseguiu viver até então. Pois o Gilson estava obcecado pelos meus pés – uma das únicas partes do meu corpo ainda vestidas que, junto com o espartilho, compunha um visual hipnotizante. Como as regras do jogo não permitiam nudezas voluntárias, ele começou a suar frio: queria deveras ganhar uma partida, jogar minhas sandálias longe e se atirar de boca nas minhas extremidades.

O Júlio, por sua vez, desejava relembrar nossos vibrantes tempos de cavalgadas, quando juntos percorríamos quilômetros e quilômetros de tesão em vermelhos lençóis e gemidos sem fim. Eram minhas as crinas e dele as proporções equinas, dele as rédeas, meus os ritmos galopantes. Aos trancos e solavancos, tapas bem dados e muito prazer, formávamos uma camaleônica dupla de cavaleiro e amazona, ora eu era ele, ora ele era eu, ora ele comandava, ora eu dirigia os horizontes. O sol se punha, o sol nascia, nossos passeios pelo mundo dos sentidos só terminavam quando sucumbíamos a um estado nirvânico de exaustão total.

Eu poderia continuar falando dos fabulosos dotes físicos do Júlio. Da sua incomparável resistência aeróbica, que tira o fôlego até de maratonistas sexuais como eu. Ou da técnica perfeita do Gílson em passar a língua, assim, entre os dedos do pé capaz de nos fazer ver estrelas. Mas eles são deliciosos velhos conhecidos e hoje o meu interesse estava canalizado naquele pedacinho de carne nova, naquele tenro e macio pedaço de mau caminho, a Silvinha. No pescoço longilíneo e alvo da Silvinha. Nas suas costas nuas, com aquele caminhozinho de espinha dorsal saliente como degraus se oferecendo para a gente escalar. No seu quadril redondo, carnudo, lustroso, vibrante. Seus biquinhos de seios rosados, angelicais, irresistíveis de mordiscar. Ah, a Silvinha. E ela estava ali, semi-sorrindo aquela boca gostosa pra mim.

As cartas foram redistribuídas. Pelo grau de excitação do grupo, certamente pela última vez. Nem olhei direito minha mão. Saquei duas cartas aleatórias e fixei meu olhar no dela, que a essa altura estava só de calcinha. Que a essa altura estava na minha. Que a certa altura subiu na mesa. E fez um strip-tease que deixou a minha boca salivando mais que as cataratas do Iguaçu. Rios de lava correram nas minhas veias. E um leve tremor de pálpebras me deu a certeza de que aquele momento raro seria também inesquecível. Tomei um profundo gole de água gelada. Mordi o lábio superior. Umedeci com a língua. Quando ela se ajoelhou na minha frente, com os joelhos levemente afastados, formando o triângulo das bermudas da perdição, fui sugada no vácuo do seu buraco negro. E a partir deste momento, tudo o que eu contar será irrelevante. No vácuo, palavras inexistem. Só quem viveu, sabe.

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