Estava uma tarde morna, dessas que amolecem o corpo da gente e pedem uma companhia que acabe de nos derreter de vez ou um banho gelado revigorante. A piscina do prédio estava convidativa, mas marquinha de biquíni só me interessa na parte de baixo. E a última vez que fiz um topless no condomínio, vixe, foi um Deus nos acuda. Era um tal de homem babando, mulher vociferando, casais discutindo, cachorro latindo, chamaram até a polícia. Foi um erro tático: o batalhão inteiro da 19ª DP me tem na mais alta estima. Quando estou com insônia, pratico caridade, levo um bolinho de milho e um belo decote para alegrar a rapaziada. Teriam feito um favor em chamar os bombeiros. Diz que tem uma nova leva de recrutas de tirar o chapéu. Sempre tive fetiche por homens de fardas com grossas mangueiras na mão.
Mas voltando à piscina, desde aquele dia estou proibida de mostrar mais que o umbigo, as orelhas e as narinas. Furos outros, nem pensar! Baixaram uma portaria, meu nome virou até verbo: “É proibido Veronicar”. Na época não achei muita graça, mas hoje dou gargalhadas. Fico pensando cá com os meus botões: “fornicar” foi inspirado em quem? De qualquer forma, acho uma injustiça, não havia uma única cláusula no regulamento do condomínio referente à restrição de seios à mostra. Animais de estimação são proibidos e está cheio de cães e gatos espalhados pelo prédio. Vá entender!
Não gosto de briga e não faço as coisas por mal. Tudo bem, não vou ser hipócrita de dizer que sou “pura”, até porque voluptuosidade e assepsia são duas coisas incompatíveis. Como se enroscar num embate amoroso sem se lamber, melar, molhar, sem suar, se besuntar com óleos, cremes, salivas? Quer coisa mais impura do que um beijo de língua? E língua na orelha? O prazer é uma coisa deliciosamente nojenta. Agora, você vai deixar de comer chocolate porque se lambuza? Não vai. Chocolate e sexo são as duas melhores coisas que já inventaram nessa vida.
Vou abrir um parêntese para contar um caso que tive há anos, muitos anos, com um rapazote talentoso, multitalentoso, eu diria, com uma habilidade incrível nas mãos. Por sugestão minha, que tive a sorte de experimentar seus toques sublimes e apalpadelas mais que perfeitas, ele, que na época era estudante de Fisioterapia, hoje é um renomado massoterapeuta. Pois bem. Cá estava eu com o jornal na mão, folheando em busca de diversão, quando dou de cara com o anúncio dele: Christopher L. Veja bem, massoterapeuta não tem nada a ver com massagistas tipo self-delivery para very happy-hours. São profissionais sérios e certificados. Mas para toda regra, há uma exceção. Assim que ele atendeu ao telefone e deu um suspiro “Verrôônica!”, com sotaque francês, tive certeza de que viria me dar uma amassadinha.
Eu tinha duas horas para me preparar para mim (já explico) e preparar um jantar para ele. Homem com fome não rende. Deixe um homem bem satisfeito na mesa e ele vai te dar satisfação em dobro na cama. Mas nada de comidas pesadas, feijão, carne vermelha, essas coisas. Deixe isso para almoços de família – sim, libidinosas como eu têm família. Um dia eu conto a história da minha, não agora. Voltemos ao cardápio. Folhas verdes também vão para a lista negra. Quem gosta de alface é gafanhoto. Aposte nos carboidratos, fontes de energia. Traduzo: uma boa massa. Homens adoram uma bela macarronada. De fácil digestão, vai sobrar espaço para você se servir, inteirinha, de sobremesa.
Quando falei em me preparar para mim, me referi ao fato de que a gente tem que dar o melhor de si a si mesmo. O dia está quente, grudento, acha que vou me apertar em espartilhos e elásticos e presilhas para ficar mais gostosa? Tô fora. Quero minhas partes arejadas. Quero conforto, relaxamento, maquiagem zero. É o meu barato hoje. Não é à toa que procurei uma companhia compatível com esse momento despojado. Às vezes a gente se tortura para agradar ao outro e esquece que esse movimento tem que nos agradar também. Prazer é tudo. Arrume-se como você gosta. Se o outro não gostar, não troque de estilo. Troque o parceiro.
Tomei um delicioso banho de banheira, às gargalhadas. Quase me afoguei. Você acredita que dei um pulinho no corredor para colocar o lixo fora e dei de cara com a vizinha do lado, uma advogada que acha que é a juíza do prédio e vive controlando a vida de todo mundo – a minha, principalmente, e dando pitis moralistas. Eu só de top e calcinha, ela com o marido a tiracolo. A moral estava toda do meu lado, bastou ver a simpatia do marido dela pelas minhas, digamos, causas. Cumprimentei a ambos e antes dela começar a latir sua infindável ladainha de que isso é um absurdo, aquilo outro é inaceitável, perguntei: “Como vai o ‘Gorilããão’, dona Helena?”. Pronto, imunizei. Ela se empertigou, olhos quase saltando das órbitas - não sei se de ódio ou de susto, e saiu puxando o marido apatetado que queria saber “Que gorilão, que gorilão?”. Agora ela sabe que sei do seu caso com o vizinho do 503.
Foi ele mesmo quem me contou. Gorilão pra ela, macaquinho pra mim. Ela pensa em ir, eu já estou voltando. O cara é do tipo gostosão e peludo e o que tem de pêlos, tem de língua. Em todos os sentidos. Um deles, é que adora contar vantagens. Infelizmente, nossos encontros são raros porque ele possui uma agenda sexual atarefadíssima e me recuso a entrar em filas. Mas de vez em quando, quando calha de eu estar de bobeira e ele disponível, a gente se une para trocar experiências e testar novos métodos de felicidade. E são nessas horas, entre risos e arrepios, que ele me confidencia o que não devia e eu me vacino contra gente chata.
Acendi um incenso de patchouli, semicerrei as cortinas da sacada, coloquei uma musiquinha, uma bata de algodão branco e uma calcinha também branca. Tirei o top. Adoro o efeito que os bicos dos meus seios dão sob a blusa, pontudos, macios, se oferecendo para serem mordidos. Molhados, então, têm um toque todo especial. O balde com gelos já está no bar, aperitivos idem, as velas espalhadas estrategicamente. Hum, a campainha tocou. Adoro homens pontuais que vão direto ao ponto. Com licença, meninas. A tarde está abafada, preciso acabar de me derreter.
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