Combinamos de nos encontrarmos num motel, em duas horas.
Quase não precisei me arrumar – estou sempre pronta para uma deliciosa
sacanagem. Mas tirei do armário uma relíquia que eu trouxe de Paris para
momentos especiais: um conjunto de lingeries negras, rendadas, com espartilho
vitoriano, presilhas de prata e tudo o que tenho direito para incrementar o
strip-tease alucinante com o qual eu presentearia Jotabê pela coragem de
embarcar nessa louca fantasia. Vou ser para ele, esta noite, tudo o que eu
imagino que ele quer que eu seja. Selvagem, mas feminina. Sedutora, mas
delicada. Pró-ativa, mas totalmente disponível. Ele me imagina uma deusa, mas
vou ser bem mais que isso: serei uma deusa apalpável.
Coloquei um vestido de seda curto, vermelho, cujo comprimento
da saia se alinha com a barra das meias 7/8. Quando eu rebolo a saia ondula
levemente, o suficiente para mostrar, num relance, o início da cinta liga, só
para, em seguida, devolver as minhas coxas aos mistérios profundos em que elas
se revelam e desvendam. Não passei perfume algum. Quero que ele se impregne do
meu cheiro. Prendi os cabelos desajeitadamente e ficaram caindo em cascatas rebeldes.
O salto agulha não poderia ser outro. Já a máscara, escolhi uma em forma de
“mulher-gato”, que deixou à mostra meus lábios carnudos, bem sensuais. Eu tinha
outras, mas essa casou direitinho com meu instinto felino de hoje. Uma coisa,
assim, gata no cio.