Vou ter que quebrar a promessa de falar sobre o meu passado
sado-masô porque aconteceu uma coisa incrível e preciso contar pra alguém. Na
noite da insônia mor em que fiquei espiando com binóculo o vizinho suculento,
resolvi entrar numa sala de bate-papo na internet para me divertir. Geralmente,
entro com o meu sobrenome mesmo, “Volúpia”, que muitos pensam ser um apelido.
Era uma sala aberta, com pouca gente e estava rolando um papinho sem sal, quase
me deu sono. De repente, uma frase solta me chamou mais do que atenção, me
chamou pelo nome: “Volúpia, cê é a Verônica?”.
Olhei o nick, Jotabê, um total desconhecido Não que não
pudesse se transformar num amigo íntimo, claro. Pensando nisso, respondi
reservadamente: “Nos conhecemos?”, e ele respondeu: “Eu conheço você, mas você
não me conhece”. Hum, enigmático, o rapaz. E conseguiu me deixar curiosa. Como
assim ele sabe quem sou? Nem eu sei direito!
Engatamos num papo animado. Jotabê é - olha que trama do
destino – amicíssimo do Jorge Y., um fotógrafo que conheci há séculos e que fez
um ensaio fotográfico lindo comigo. Eu diria mesmo que foram as fotos mais
exuberantes que já tirei. Não mostravam o meu rosto, mas partes do corpo, boca,
nariz, umbigo, púbis, coxas, eu de corpo inteiro, de costas, com longos cabelos
negros até a cintura ou em posições sensualíssimas. Uma das fotos transformei
em papel de parede e cobri uma parte da sala do meu antigo apartamento. Quando
o vendi, o novo dono pediu para deixar como estava. Pois foi exatamente essa
imagem que Jotabê me mandou pela web, inesperadamente.
“Hei, como você conseguiu essa foto?”, perguntei. “Tenho toda
a coleção”, respondeu. “Mas elas não estavam à venda”, argumentei. “Eu sei. E
mesmo se estivessem, não haveria dinheiro no mundo que pudesse pagar o preço
que valem”, teclou. Adorei o elogio, mas ele não havia respondido minha
pergunta. “Não acredito que o Y. te deu de presente”, não, ele não tinha dado.
“Digamos que me emprestou”, contou Jotabê. Segundo ele, a atual mulher do meu
ex, ciumentíssima, ameaçou destruir o material e Y. pediu para JB
salvaguardá-lo. “O que fiz com muito prazer”, completou.
Ficamos teclando um bom tempo e Jotabê sabe muito, muito
mesmo, sobre mim. Sabe que gosto que passem a língua suavemente na minha nuca,
que intercalem com mordiscadas e que acabe num avassalador ataque vampiresco
que deixam marcas na jugular e arrepios na pele. Também sabe que adoro beijos
de língua profundos, daqueles que a gente consegue sentir o calor do corpo
inteiro do outro através da rígida maciez desse músculo. Sabe que amo cremes,
óleos, massagens, que sou capaz de ficar um dia inteiro feito tobogã
escorregando em curvas e acabando encharcada em suor e outras seivas. E sabe
que tenho um tesão mortal em sexo anal – esse caviar proibitivo que as mulheres
guardam para momentos especiais e que os homens almejam porque nem sempre
conseguem degustar.
Se por um lado tudo isso me assustou, por outro me seduziu,
óbvio. Até porque a noite estava quente, eu estava sozinha e super a fim de ser
seduzida. Devo ter sido o assunto de noites e noites de bebedeira entre os dois.
Y. contou para ele detalhes que nem eu lembrava e que a imaginação de JB
aumentou mil vezes, dando vazão a fantasias fantásticas. “Tenho sonhos eróticos
alucinantes com você”, confessou, “você é uma deusa com mil faces, mas não
conheço a verdadeira, nunca vi o teu rosto e isso me deixa louco”. Uau, comecei
verdadeiramente a me interessar pela história.
Meu sistema de sentidos é muito simples: quando um deles é
afetado, os outros todos dão as mãos e entram vibrando na roda. Só de pensar
que o cara não conhece a minha identidade me deixou excitadíssima! Nunca
transei com uma pessoa sem rosto e do qual já fosse tão íntima. E se eu também
não o vir? Minha cabeça deu mil voltas e uma ideia foi nascendo, se enraizando,
se infiltrando nas minhas veias, uma ideia densa, deliciosamente quente. “O que
você está fazendo agora?”, perguntei. O que ele respondeu é impróprio para
menores, mas em outras palavras, me ver era tudo o que ele queria. “Ok, a gente
vai se encontrar. Mas com uma condição: nós dois usaremos máscaras. Vamos
realizar nossas mais loucas fantasias, mas sem pisar na realidade”, propus.
“Não vamos nos conhecer?”, ele quis saber. “Vamos. Não vamos é saber quem
somos”, respondi. Ele topou.
(continua...)
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