Volúpia é uma palavra sugestiva. Para pronunciá-la, a gente faz um biquinho, depois encosta a língua assim, no lábio superior e, para arrematar, dá aquela apertadinha na boca, de quem está prestes a cometer um ato libidinoso. Tive sorte de nascer com este nome tatuado na minha estirpe. E mais ainda de vir ao mundo com lábios carnudos, pele aveludada, longas pernas bem torneadas, um quadril de parar o trânsito e uma cinturinha sinuosa, que só se aquieta com uma boa pegada. A natureza foi generosa comigo. Procuro não decepcioná-la.
Tenho cabelos compridos de cor indefinível. Tudo depende do meu humor. E da ocasião. No momento, estou morena, só porque as loiras estão em alta. Gosto de ir contra a corrente, chamar a atenção. Amo decotes, esses precipícios de promessas e mistérios que não se desvendam, mas se oferecem. Adoro como os olhares masculinos infalivelmente caem nessa armadilha, se prendem, se agitam, e de como as respirações se alteram, as peles enrubescem, o calor aumenta. Se um verdadeiro vulcão de emoções entra em erupção com um simples artificiozinho feminino, imagine com a inventividade dos acessórios de última geração? Eles abrem um leque de possibilidades. Possibilidades estas que eu totalmente me possibilito.
Não tenho culpas. Nasci desprovida deste mecanismo de autodefesa. Quando quero, quero e, se o outro quer, já viu, são dois querendo. Ou três, quatro, sabe como é. É como fio e pavio, fósforo e pólvora, um risca, o outro acende, e vira aquele fogaréu. Como resistir? E pra quê? Meu desejo inflama fácil, não sou das mais exigentes. Não tenho preconceitos de raça, cor, nem, principalmente, de sexo. O que seria da música se houvesse uma nota só? Toco em todas as escalas, ritmos, orifícios. Só não danço dois pra lá, dois pra cá, porque gosto de inovar.
Nunca tive namorado, mas acredito em fidelidade. Para os outros. Quando quem me trai descobre que já foi traído fica fulo da vida. Os homens brasileiros são muito machistas, não gostam de competidores à altura. E, para mim, infidelidade é uma questão de urgência. Não me peçam para controlar o incontrolável. Também não consigo ficar muito tempo com uma pessoa só. Minto. Consigo ficar hoooras, dias, uma longevidade, entre quatro paredes com alguém que me faça nunca querer ir embora. Que saiba escorregar nas minhas curvas com a destreza que a minha sinuosidade exige. Que me engula, amasse, esfole, arrepie, que me cavalgue, que me inspire. Que consiga libertar com toques, sussurros, olhares, os urros selvagens da minha feminilidade. Sim, jogo nos dois times, mas sou superfeminina. Disso, não abro mão. Tudo o mais é negociável.
Já tentei fazer análise para compreender a minha luxúria, mas os psicanalistas acabavam sempre na minha cama, não deu muito certo - não no ponto de vista ético. Ai, ai. No fundo, sou uma romântica inveterada. Dou o maior valor para flores, bombons, agradinhos. O problema é que eles são o aperitivo e eu, infalivelmente, o prato principal - com direito a repeteco e sobremesa, claro, porque generosidade é uma qualidade da qual me orgulho. Um belo dia, desisti de tentar entender o mundo e me aceitar como sou. Se os outros aceitam e pedem mais, porque vou ficar criando caso? Os únicos casos que eu crio agora são exatamente esses que vocês estão pensando.
Olha, não sou muito boa com palavras, mas resolvi aceitar o convite de escrever estas memórias porque o melhor da vida são encontros. E me agrada ter um encontro com você aqui para falar de sexo e amor, essas duas coisas complementares e independentes que, servidas juntas dão a impagável ilusão de plenitude e, separadas, a deliciosa sensação do aconchego. Só não espere de mim dicas ou orientações. Tudo o que sei é baseado nas minhas mais singelas experiências pessoais. Experiências essas que relato sem pudores. E ofereço como inspiração. Vou fazer na teoria como faço com a prática. Com muito, muito prazer.