sábado, 18 de agosto de 2012

LUA DE MEL


Bem, bem, bem. Uma semana intensa com o mascarado se passou e é hora de voltar à vida real. Ah, como isso é difícil, não é mesmo? Por que a vida não pode ser uma eterna lua de mel? Viver de amor é tão mais fácil. E tão bom! Não há preocupações, só prazeres, não há erros, só acertos, não há tristezas, só alegrias e, principalmente, não há o mundo lá fora, só o mundo de dentro: ele dentro de você, você dentro dele. Mas chega uma hora da simbiose em que não se sabe mais quem é quem e você começa a se transformar nessa outra pessoa que também é você, mas que desconhecia.

Enquanto a paixão está latente, ótimo, você se sente a melhor pessoa que poderia ser: linda, feliz, sorridente, de bem com a vida. Aos poucos, porém, a convivência vai trazendo situações para serem superadas que podem ir lentamente guiando você para o ciúme, o sufocamento, a possessão, a neurose, o egoísmo e outros sentimentos infantis mal resolvidos. E, se você não se cuidar, vai se perdendo de si mesma. Você sabe quem você é? E o que gosta de ser? O mascarado me convidou a ficar com ele mais um mês. Eu disse: “Adoraria, mas não posso”. Não posso me perder de mim mesma.

domingo, 5 de agosto de 2012

KIT BÁSICO


O mascarado precisou trabalhar e aproveitei para dar uma mudada no visual. Nada muito radical, mas o suficiente para me transformar numa nova mulher. Homem gosta disso, de acordar com uma loira e ir dormir com uma morena. Pois hoje virei ruiva. Acho que tons quentes, acobreados, têm tudo a ver com o inverno, independente da moda. Então, fiz luzes avermelhadas nos cabelos. Fiquei lindíssima – vocês sabem que modéstia não combina com mulheres ousadas, né? Me adorei! Dei um banho de creme, também, e não fiz escova porque quero minhas longas madeixas selvagens, bem crinas, boas de cavalgar.

Depois da manicura, pedicura, essas duas palavras tão feias e tão necessárias na nossa vida, encarei uma depilação e uma massagem ayurvédica para repor as energias, que não sou de ferro. Pensam que é fácil levar uma vida libertina? Praticamente troca-se o dia pela noite, isso quando a noite não vira dia e emenda com o dia seguinte. Sim, é maravilhoso, divertido e, SIM, é um tesão. Mas mais que tudo isso, é um esporte: requer dedicação, treino intensivo para não perder a forma e pesquisa de novas técnicas, acessórios e parceiros - não para aumentar, porque a quantidade é o que menos importa, mas para melhorar a performance na busca pelo prazer. Comparo à vida de atleta: no meu caso, uma atleta sexual. Não ganho medalhas, mas quase sempre estouro um champanhe pra comemorar. Ula-lá!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

LOTERIA


Tirei a sorte grande. E não foi por que o Mascarado me levou para almoçar no dia seguinte, no Bar des Arts, um restaurante bacanérrimo de São Paulo, com direito a carpaccio de entrada, filé mignon de saída e cineminha de sobremesa – pornô, claro, daqueles bem fuleiros que a gente entra só pra dar uma rapidinha e depois sai rindo, mais leve, achando graça nas taras alheias e na nossa própria falta de bom senso. Tem certas coisas que quebram totalmente o romantismo, mas quem disse que uma paixão vive só de rosas vermelhas e declarações de amor ao pé do ouvido? É bom ser oito e oitenta, ser a lady na mesa e a vadia na cama. Eles gostam, ficam loucos por nós. E a gente adora!

Tampouco foi pela very happy hour no Skye Bar do Hotel Unique regada a martini doce com cereja e discretos beijos apimentados com arrepios promissores e um pôr do sol fantástico. Nem por que ele alugou uma suíte no hotel e me arrastou pra lá, assim, com urgência, algo inesperadamente fora da programação, mas circunstancialmente necessário devido ao alto grau de tesão acumulado pelo pôr do sol apimentado com cerejas fantásticas e promissores beijos arrepiantes.

domingo, 22 de julho de 2012

SURPREENDENTE


Se há uma coisa verdadeiramente surpreendente no Mascarado é a capacidade dele fazer com que a surpresa seguinte seja sempre melhor que a anterior. Minha noite foi uma sequência de encantamentos e não recordo bem em que momento de exaustão ou felicidade adormeci. Quando despertei, estava no quarto dele, na cama king size, em meio a alvos lençóis e travesseiros de pena de ganso. Olhei para o lado e não o vi. Levei a mão ao rosto e sim, minha máscara estava lá. Por um segundo achei que ele pudesse ter tido a curiosidade de saber quem eu era. Quem eu sou. Porque, com certeza, depois dessa noite, não sou mais o que eu era antes.

Em algum lugar do quarto, talvez por todos os cantos, tocava delicadamente Twilight Song, do Charlie Haden. Eu sei pois sou louca por esse álbum (Night and the City) que ele gravou com o Kenny Barron. Agora, como o Mascarado descobriu, não me pergunte. Às vezes eu acho que ele lê a minha mente. Não pode ser uma simples coincidência.

Desci da cama, nua, e só então percebi a coisa mais inacreditável: o quarto estava cheio da minha presença. Eu estava em todos os lugares, em todas as paredes! Na penumbra, iluminadas por pequeninas luzes direcionadas, fotografias de partes do meu corpo, em preto e branco, estavam emolduradas e penduradas para onde quer que olhasse. Grandes coxas, bunda, lábios, colo, pernas, pés, mãos, queixo, pescoço, púbis, todas as minhas curvas e reentrâncias se exibiam em poses sensuais, lindas, me transformando no abecedário da anatomia – e porque não da alma?, feminina. Fiquei absolutamente atordoada, estupefata, maravilhada, não sei que palavra usar.

sábado, 21 de julho de 2012

PODEROSA E SUBMISSA


Fenomenal: raro, singular, extraordinário, admirável, formidável, espantoso, assombroso, surpreendente, gigantesco, descomunal. Fiquei em dúvida sobre qual sinônimo pescado no dicionário usar, usei todos. A casa do mascarado nos Jardins, em São Paulo, era algo como ele: indescritível. A entrada era camuflada por plantas, muitas plantas, mal se via a fachada. Mas quando os portões de madeira maciça se abriram, revelaram um verdadeiro Jardim do Éden, com esculturas aqui e ali e uma pontezinha linda que cruzava um pequeno lago com uma fonte levava a um recanto com redes e futons sobre estrados. Foi ali que nos instalamos.

A noite estava agradável, uma brisa soprava fininho, daquelas que não mata de frio, mas arrepia a pele. A lua espiava entre nuvens e, além dela, duas tochas eram tudo o que iluminava o ambiente. Uma música tribal, densa, excitante, amornava o ar. Despojado, ele tirou os sapatos e, com os pés descalços, se dirigiu a uma mesinha de canto onde havia uma bandeja com bebidas. Voltou com dois cálices pequenos. Olhei para aquela imagem, Deus grego mascarado de calça cargo e camisa cheia de amarras, entreaberta no peito, sorriso e covinhas convidativos, vindo em minha direção. Suspirei. Ele parou no meio do movimento e, depois de alguns segundos me contemplando, disse: “Nunca vou esquecer este momento”. Tirou as palavras da minha boca.

sábado, 14 de julho de 2012

ARIGATÔ


Às 18h, o interfone tocou. Eu estava no quarto, afogada em rendas e espartilhos, na maior dúvida: o que vestir? Raramente entro em crises deste tipo porque só tenho no armário peças que amo, mas hoje não estava em climinha de amor: fervia de paixão. Precisava de uma lingerie que transbordasse meu rio incandescente feito barreira que se rompe com a intensidade não da água, mas do fogo. Bééép. O interfone. Era o porteiro anunciando a entrega de uma encomenda. “Encomenda?”, não fazia ideia do que se tratava. Mandei subir.

Um senhor com quepe e luvas brancas, muito sério, me estendeu uma caixa com um laço enorme de presente. “Da parte do senhor Jorge, com a sua licença”, e se retirou. Fiquei segurando o pacote, atordoada. Parecia cena de filme - diretor, qual é a minha fala mesmo? Perplexa, mas absolutamente encantada, desembrulhei o laçarote e abri a tampa. Em meio a um papel de seda finamente embrulhado, estava um conjunto de lingerie perolado, lindíssimo, com uma deslumbrante máscara de porcelana chinesa. E uma carta. 

terça-feira, 10 de julho de 2012

SURPRESINHA MATINAL


Acordei com a campainha tocando. Droga, quem seria num domingo de manhã? Sentei na cama, olhei pro Rafa ao meu lado, que abriu os olhos e sorriu. Exclamei: “Que preguiça de levantar”. Desabei sobre o travesseiro, me esticando feito uma gata manhosa. Esperamos soar uma segunda vez, mas nada aconteceu. Minto. Começou a acontecer. O Rafa beijou a minha mão com uma boca molhada e gostosa e foi me puxando como carretel de pescaria. Fui desfalecendo dengosa. Quando ele passou do ombro, já estava chegando no pescoço, béééé, a campainha tocou de novo.

“Quer que eu atenda?”, perguntou. “Deixa, acho que sei o que é”, pensei na síndica e na possível queixa ao meu queridinho ter estacionado o carro na vaga do Patrick, um vizinho que está viajando. Joguei a camisa social do Rafa sobre o corpo e abri a porta seminua. Era o zelador com uma cesta de café da manhã enorme, coisa de cinema. Uau! De quem seria? Havia um cartão no formato de uma máscara. Senti um arrepio na espinha, meu coração disparou, só podia ser ele: o Mascarado. Segurei junto ao peito, mas não li. Não queria estragar o fim de semana tão gostoso com um dos meus mais antigos e queridos casos.

domingo, 8 de julho de 2012

ESTOQUE DE CAMISINHAS – PARTE 2


É claro que voltei ao templo das underwears masculinas. E é óbvio que meu ex-chefe charmosérrimo estava me esperando feito um cachorrinho daqueles que a gente amarra do lado de fora do supermercado. E é mais certo ainda que não entrei pela porta da frente como ele poderia supor, mas dei um jeito de me esgueirar pela copa e ficar lá no fundo do salão mirando-o feito uma águia prestes a colocar as garras em seu coelho indefeso e apetitoso. Ok, de indefeso ele não tem nada, agora de apetitoso, hum, só de vê-lo me deu água na boca.

Há várias vantagens em se voltar à festa assim de soslaio. A principal, na minha opinião, é poder observar a pessoa que a gente está a fim e, pelo sinais corporais que ela emite, saber se as intenções dela são as mesmas que as nossas. Eu não tinha dúvida que o Toni me queria. Só me deu vontade de confirmar o quanto era esse querer. Porque eu estava descendo uma ribanceira de tesão por ele e não queria me arranhar no asfalto do mais ou menos: queria me esfolar viva num rala e rola daqueles de doer de tão bom.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

ESTOQUE DE CAMISINHAS


Fui numa sex shop abastecer o meu estoque de camisinhas, que andava a zero. Comprei de todos os sabores, cores, texturas e tamanhos, principalmente - menos P, porque nessa vida a gente encontra M que acha que é G, P que acha que é M e G que se sente Extragrande, mas nunca encontra alguém que pense que o seuzão é menor do que a média nacional. Então é melhor satisfazer a todos os egos e ter sempre números vários para, na confusão, ninguém saber de fato o que é, nem o que tem. Aliás, acho que nem são fabricadas camisinhas em formas mínimas e, se são, com certeza o tamanho estampado é “super” alguma coisa. Em matéria de sexo, vale mais o que você pensa que é do que a sua genética.

Espalhei as camisinhas nas bombonieres da sala, da cozinha, do quarto, feito tira gostos, pois que não são outra coisa. Vão bem a qualquer hora do dia e da noite, são ótimos para se oferecer a uma visita e só de olhar dão vontade de comer. Tenho camufladas até na área de serviço, nunca se sabe onde um amasso bem dado pode nos levar. Minha faxineira acha graça, diz que nunca viu uma casa que tem mais camisinha do que chocolate. “Chocolate dá espinha, meu bem”, respondo sempre. Não preciso dizer que sexo faz bem pra pele, preciso?

sexta-feira, 22 de junho de 2012

INDECÊNCIA


Recebi um email, desses que não têm dono, com uma historinha que casou muito bem com o assunto que eu ia abordar hoje. Diz mais ou menos assim: um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, e no centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas.

Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada apesar da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada. Um segundo foi substituído e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui".


É mais ou menos isso que acontece em relação ao sexo. Desde que o mundo é mundo ele existe no reino animal, mas em algum momento da história da humanidade alguém decretou: “É uma pouca vergonha!”. E desde então estamos fadados a acreditar que a prática desse saudável e delicioso exercício é sujo, feio, imoral e vergonhoso. Desde então somos doutrinados a acreditar que só o papai-e-mamãe para a procriação é permitido - e olhe lá, só casando, heim? - e todas as outras variáveis e orifícios são coisa de gente imunda. Sexo? Só entre um homem e uma mulher. Sexo? Só pela frente, por trás é pecado. Sexo? Só com amor. Sexo? Ui, essa palavra me dá arrepios.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

CLUBE DE SWING – PARTE 2


Ele chegou e eu saí de mim. Escorreguei pra fora do meu corpo feito lava incandescente. Um rio quente foi descendo pelas minhas pernas e crispando cada naco de carne que encontrou pelo caminho. Minhas coxas se arrepiaram e as contraí enquanto a língua dele já ia fundo dentro da minha garganta, num beijo incontrolável e ardente. Não resisto a um sussurro ao pé do ouvido e ali, naquele clube de swing, com aquela energia toda no ar e aquele belo par de performers dando tudo de si no melhor strip-tease que já assisti na vida, ser tocada assim, por trás, inesperadamente, me acendeu por completo. Peguei fogo. Peguei-o pelos cabelos e pensei em nunca mais soltá-lo.

“Desculpa o atraso”, falou quando finalmente nos descolamos e sentou ao meu lado. “Você vai ter que se redimir”, respondi com um sorrisinho sacana, enquanto puxava a gravata dele para um outro beijo voluptuoso. Ele quem?, vocês devem estar se perguntando. Calma, já conto, deixe-me tomar fôlego. Acredite se quiser, reencontrei o deus grego da festa do labirinto, o Bruno. Na verdade, foi ele quem me achou. No nosso último e primeiro encontro estávamos tão atordoados de tesão que esquecemos de trocar telefones. E, diferentemente de outros que transo por esporte, esse me deu vontade de dar um repeteco - foi gostoso demais para deixá-lo feito pipa solta ao vento.

terça-feira, 12 de junho de 2012

CLUBE DE SWING


Fui num clube de swing. Não sou grande frequentadora desses lugares, mais por falta de par do que por falta de vontade. Sai injustamente caro ir sozinha: o dobro do que custa a entrada de um casal. Infelizmente, nem sempre encontro alguém com a cabeça aberta o suficiente para me dividir com outros, ao vivo e a cores, numa boa. Mas sexta passada era aniversário do Artur, amigo bem íntimo, daquela turma libertina que já comentei e ele resolveu comemorar em grande estilo. Estavam todos lá: o Duda, a Nina, a Bebel, o John, a Silvinha, o Hugo e, claro, vários outros casais assíduos da casa. Eu não podia faltar.

Cheguei sozinha, o que não é muito legal. É, digamos, uma falta de respeito para com os outros. Mais ou menos como ir numa praia de nudismo e não tirar a roupa. Você passa duas mensagens: uma, que está com vergonha – e se tem vergonha, o que faz numa praia naturalista? Caso contrário, só pode ser por curiosidade – o que também desagrada aos nudistas, que não estão despidos para se exibir e sim como filosofia de vida, para se integrar à natureza. Conhecendo as regras, pedi desculpas à hostess. Expliquei que o meu delicioso par só chegaria mais tarde e que não queria perder o show de strip-tease das 21h - o que era a mais pura verdade.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

SANTINHA DO PAU OCO


Meu amante mascarado teve que viajar a trabalho. Achei péssima essa abstinência forçada. É o mesmo que a gente comprar um sorvete e, na primeira lambida, cair a bola inteira no chão. Fica aquela certeza de desperdício mesclada com um gostinho de quero mais. Ah, como eu queria estar agora passando a língua mil vezes de cima a baixo naquele homem gostoso sabor de pecado.

Sempre que quero muito uma coisa, ou alguém, ou uma situação, e não está nas minhas mãos o poder de alcançá-la, penso assim: "Vivi a minha vida inteira sem isso e nunca me fez falta. Posso sobreviver mais um dia (uma semana, um mês!). Não passa a vontade, mas aplaca a ansiedade. Procuro pensar em coisas legais que fiz, pessoas que me deixaram feliz, situações que me deram prazer. E que poderia repetir, se quisesse. Então, um calor bom de conforto me aquece o peito e um sorriso largo me rasga os lábios e já me animo toda. Porque a vida é o que a gente quer que ela seja.

terça-feira, 5 de junho de 2012

EM ÓRBITA


A Silvinha foi embora sob protestos. Por ela, ficava comigo até o sol raiar e confesso que a ideia não me era de todo desagradável. Muito pelo contrário, ela entrou numa academia recentemente e está com um traseiro deliciosamente sarado e coxas musculosas e suculentas que, em conjunto, chegam quase a ofuscar aquela boquinha linda e doce de beijar que tanto adoro. Mas eu estava curiosíssima para ler as mensagens do meu Mascarado lá no Messenger. Ler sozinha. Uma coisa é compartilhar com uma amiga os assuntos pertinentes ao homem da gente, outra coisa é compartilhar “o” homem. A não ser que a suruba seja instituída e de comum acordo entre as partes, prefiro degustar meus parceiros com exclusividade. Ainda mais um peixão raro que caiu na minha rede como esse.

Lá estava ele, alucinado por mim. Da meia-noite às 3h da manhã, hora em que consegui me desenlear dos braços de polvo da Silvinha, da pele de seda da Silvinha, das mordiscadas arrepiantes no lóbulo do meu ouvido, ula-lá, da Silvinha, o Mascarado me mandou infinitas mensagens. Infinitas como são as estrelas que vi quando estive com ele dentro de mim em nosso último encontro. Último e primeiro. Primeiro de uma série - o segundo estava prestes a acontecer. E se dependesse de mim, ainda esta noite.

domingo, 3 de junho de 2012

RINDO À TOA


Cheguei em casa completamente exausta, sorrindo à toa. O mascarado e eu passamos dois dias enfurnados no motel - ok, uma noite e um dia. Não vimos as horas passarem, a ponto do serviço de quarto bater na nossa porta para saber se estávamos vivos - o que achamos um absurdo, mas depois caímos na gargalhada. E comemos uva feito Baco e tomamos champanhe feito água e fiz-lhe uma massagem feito uma tailandesa e ele me degustou feito uma fruta suculenta. E me cavalgou feito um potro e dancei para ele feito uma stripper e tomamos banho feito dois gatos e cá estou feito uma geléia, amolecida de prazer.

Chamei a Silvinha para fofocar. Estou me sentindo uma adolescente apaixonada, uma espécie de Cinderela que dançou com o príncipe encantado e fugiu no meio do baile. Tudo bem, não fugi, mas de certa forma ele não sabe quem sou e não deixei pista alguma sobre o meu paradeiro ou identidade a não ser um recado escrito com batom no espelho do motel, bem clichê: “Te encontro à meia-noite”. Só não disse onde, nem quando. E ainda por cima deixei uma rosa vermelha sobre o dorso dele, tão lindo, belo adormecido entre os travesseiros.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

ÍNTIMO DESCONHECIDO


Combinamos de nos encontrarmos num motel, em duas horas. Quase não precisei me arrumar – estou sempre pronta para uma deliciosa sacanagem. Mas tirei do armário uma relíquia que eu trouxe de Paris para momentos especiais: um conjunto de lingeries negras, rendadas, com espartilho vitoriano, presilhas de prata e tudo o que tenho direito para incrementar o strip-tease alucinante com o qual eu presentearia Jotabê pela coragem de embarcar nessa louca fantasia. Vou ser para ele, esta noite, tudo o que eu imagino que ele quer que eu seja. Selvagem, mas feminina. Sedutora, mas delicada. Pró-ativa, mas totalmente disponível. Ele me imagina uma deusa, mas vou ser bem mais que isso: serei uma deusa apalpável.

Coloquei um vestido de seda curto, vermelho, cujo comprimento da saia se alinha com a barra das meias 7/8. Quando eu rebolo a saia ondula levemente, o suficiente para mostrar, num relance, o início da cinta liga, só para, em seguida, devolver as minhas coxas aos mistérios profundos em que elas se revelam e desvendam. Não passei perfume algum. Quero que ele se impregne do meu cheiro. Prendi os cabelos desajeitadamente e ficaram caindo em cascatas rebeldes. O salto agulha não poderia ser outro. Já a máscara, escolhi uma em forma de “mulher-gato”, que deixou à mostra meus lábios carnudos, bem sensuais. Eu tinha outras, mas essa casou direitinho com meu instinto felino de hoje. Uma coisa, assim, gata no cio.

NO PLANO DA FANTASIA


Vou ter que quebrar a promessa de falar sobre o meu passado sado-masô porque aconteceu uma coisa incrível e preciso contar pra alguém. Na noite da insônia mor em que fiquei espiando com binóculo o vizinho suculento, resolvi entrar numa sala de bate-papo na internet para me divertir. Geralmente, entro com o meu sobrenome mesmo, “Volúpia”, que muitos pensam ser um apelido. Era uma sala aberta, com pouca gente e estava rolando um papinho sem sal, quase me deu sono. De repente, uma frase solta me chamou mais do que atenção, me chamou pelo nome: “Volúpia, cê é a Verônica?”.

Olhei o nick, Jotabê, um total desconhecido Não que não pudesse se transformar num amigo íntimo, claro. Pensando nisso, respondi reservadamente: “Nos conhecemos?”, e ele respondeu: “Eu conheço você, mas você não me conhece”. Hum, enigmático, o rapaz. E conseguiu me deixar curiosa. Como assim ele sabe quem sou? Nem eu sei direito!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O MUNDO BDSM


Há anos, muitos anos, ganhei um belíssimo binóculo de presente de um caso que tive com um diretor de cinema dominador, numa época em que eu estava curtindo desvendar os peculiares e tortuosos prazeres do mundo BDSM. Das práticas sado-masô pouco restaram além de lembranças e algumas marcas e já havia até me esquecido das sessões de dolorosas brincadeiras quando, na noite passada, em meio a uma insônia terrível, resolvi organizar meu guarda-roupa e dei de cara com o passado. Hum, que descoberta interessante!

Imediatamente, minha memória me jogou de volta aos calabouços daqueles tórridos dias de submissão e dominação e prazer total. Dias em que me despi de desejos, roupas, vontades e entreguei meu corpo e minha alma numa bandeja de prata ao meu amo, o Mestre dos Mestres, meu adorável Mestre Dom. Por um período da minha existência, ele foi o Senhor da minha obediência, servidão e sexualidade. Serviu-se de mim quando e como quis, sem perguntas, sem explicações e com minha total aquiescência. Como sua escrava sexual, aprendi muito do que sei hoje - não nasci expert em sexo como há quem suponha. Como sua fiel serva me submeti aos seus caprichos, taras, obsessões, numa entrega cega e sublime. Orgulhosa por ter sido escolhida, honrada por ser aceita e feliz por pertencer.

terça-feira, 29 de maio de 2012

LISTINHA ERÓTICA


Volta de férias é sempre uma alegria. É um enorme prazer chegar em casa e ouvir as dezenas de recados na secretária eletrônica, conferir os românticos e nem por isso menos indecentes emails cheios de saudade dos meus deliciosos habitués. Costumo deixar uns dois ou três dias do fim das férias para me organizar e responder a todos - alguns pessoalmente, claro.

Não sou obsessiva, mas por diversão montei uma planilha no Excel onde separo as possibilidades por ordem de aproveitamento: convites explícitos e certeiros, convites insinuantes que demandam certo empenho para se concretizarem, convites tímidos porém promissores. Tudo com número telefônico e perfil detalhado. É a esta lista que recorro em momentos de ebulições hormonais, cios incontroláveis e calores outros, ao longo do ano.

A Silvinha, por exemplo, que me tira do sério no quesito doçura, deixou vários recados. Eu já falei dela aqui. Ela é doce em todos os sentidos, principalmente, no paladar. Gostosa de beijar e deliciosa de colocar língua adentro, ela é tão molhadinha e macia que você sem perceber se transforma num tamanduá. E as tocas todas formigam e se oferecem e se encharcam e você vai bebendo aquela seiva adocicada, aquela saliva caramelada, aquele suor agridoce, aquela boquinha açucarada e você vai se melando e ela vai se cristalizando em mil arrepios e, ai, ai, que sobremesa deliciosa de comer após o almoço ou no chá das 5h da tarde.

domingo, 27 de maio de 2012

PRAIA DO ROSA


Passamos o dia na Praia do Rosa, a Cat, a Pri e eu. Ficamos muito em dúvida se montaríamos nosso QG no Rosa Norte ou Rosa Sul, cantos opostos, ondas outras. Pedimos informações para o rapazinho da vendinha onde paramos para comprar protetores solares e, sem tirar o olho dos peitos da Cat, ele gaguejou que o swell estava rolando no Sul. Como agradecimento pela dica, a safadinha da Cat fingiu arrumar o biquíni e deixou transparecer o bico delicioso do seio. O rapaz ficou feito estátua, hipnotizado, segurando nossas compras. “Es-tá-tá-tá aqui”, nos entregou. Tinha um sotaque ligeirinho e me deu vontade de adotá-lo por uma noite, só pra ver se era rápido também noutros quesitos. Mas a noite estava longe, melhor focar no dia que estava apenas começando.

sábado, 12 de maio de 2012

EFEITO CASCATA


O visual lá de cima era lindo, pelo pouco que vi, num relance entre um beijo e uma puxada de cabelo mais vigorosa. O dia estava nascendo, o sol brotava sobre um horizonte de oceano sem fim, inacreditável como estar ali com aquele monumento grego, aquele ajuntamento de músculos compactos e vibrantes, aquela língua morna passeando no meu corpo, orifícios, máquina de provocar arrepios e suspiros, gemidos e contrações. O sereno grudado numa penugem de relva sobre as pedras e acima de nós só gaivotas esfomeadas assistindo de camarote ao espetáculo de mais um fim de noite na longitude daquele hemisfério. Assim começou o meu ano.

terça-feira, 8 de maio de 2012

ESTAÇÃO: PAIXÃO!


Toda a virada de ano eu penso a mesma coisa: o ano que se vai são os trilhos e o que chega, a locomotiva. Os trilhos são o caminho, as ações e sentimentos que sedimentamos na linha da nossa existência e que nos permite seguir adiante, ajustando aqui e ali o que está fora do lugar, indo pra cá ou pra lá conforme o rumo que traçamos. Há quem construa para si uma ferrovia profissional, outros focam em viajar, casar, ter filhos. Pois eu quero mais é soltar fumaça, arder em brasa.

Minhas estações não estão no mapa, não têm endereço fixo. Meu caminho é a locomotiva. E a locomotiva é o que nos atropela, é o novo, o futuro, o que está tão perto e tão longe, visível e intangível, são os nossos desejos não realizados, mas ainda vivos, é onde depositamos esperanças de sucesso e concretizações. O ano que chega nos levará adiante ou será que ficaremos com as bagagens na mão abanando ao que se vai no horizonte?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

LABIRINTO DO PRAZER


As paredes do labirinto eram feitas de um tecido elástico e resistente - uma espécie de película, um útero. Não dava para ver nitidamente o contorno dos corpos, mas se alguém passasse do outro lado, podíamos sentir, tocar através do tecido e até envolver a pessoa inteira. Havia nichos com buracos onde línguas, mãos e o que mais a criatividade permitisse encontravam outras línguas, orifícios e umidades sem identidades. Cantos e recantos de descanso, com almofadões e sofás aconchegantes, se transformaram em salas de orgia. Duplas e trios de mulheres e homens e pernas e braços se emaranhavam lindamente como se regidos por um maestro. Por mastros. Havia pequenas celas espalhadas pelos corredores, cujas treliças das portas nos permitiam ver o que se passava dentro. Uma forma de preservar os mais tímidos e satisfazer aos voyeurs. Estávamos no templo do sexo, animais soltos no cio. Em uma sala, sem teto, dava para ver as estrelas.

sábado, 28 de abril de 2012

FESTA DA BEBEL


Há certos momentos na vida que são inesquecíveis não porque jamais os esquecemos, mas porque não paramos de lembrá-los. São situações e emoções que você sabe únicas, que beiram a incredulidade pela magnitude, que dão vontade de ajoelhar e agradecer pelo privilégio de vivê-las. Momentos tão incríveis que dão um aperto no peito pela incapacidade de repeti-los - pois a perfeição é finita e uma vez atingida só pode ser superada por ela mesma. Pela consciência de que eles já se foram e só nos resta amargurar de saudade, repassá-los na memória e rir ou chorar de felicidade. Assim foi a festa de “Amante Secreto”, deste ano, na casa da Bebel.

terça-feira, 24 de abril de 2012

AMANTE SECRETO


Ah, doces verões natalinos. A proximidade do Natal me faz recordar minha infância nada inocente. Sempre soube que eu era diferente das outras garotinhas. Enquanto elas se preocupavam em arranjar um par romântico para as suas bonecas, eu queria logo me enfiar atrás de uma cortina ou embaixo da cama com alguém para brincar de “perereca elétrica”, que é isso mesmo o que vocês estão pensando. Aos 7 anos, já sabia muito bem onde ficava o meu ponto G. De lá pra cá, só fiz aperfeiçoar minhas fontes de prazer. E são várias! Quantidade também é qualidade. De vida.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

SEXO LIVRE


Ser mulher é uma conquista. A gente nasce mulher, mas para exercer a plenitude do gênero, ainda hoje, é preciso ter peito. Não estou falando daquele turbinado adquirido em clínicas de cirurgia plástica. Refiro-me à coragem, à ousadia, a não ter medo de reivindicar direitos que na lei são para todos, mas nas entrelinhas só beneficiam aos homens: a lei do sexo livre. Nunca ouviu falar dela? Pois é, a maioria das mulheres nem sabe que ela existe e que dela são beneficiárias. Mas é bom começar a divulgar. A lei diz mais ou menos o seguinte:

domingo, 22 de abril de 2012

VIZINHANÇA


Sempre faço muitos amigos e inimigos nos lugares por onde passo. Os amigos são voluntários, os inimigos, espontâneos. No meu novo prédio não está sendo diferente. Mudei pra lá há oito meses e a coisa tomou rumos de torcida de futebol: geral me odeia, geral me ama. Polarizou. Isso porque tem uma velha guarda avançadinha e uma nova guarda retrógrada. Por incrível que pareça, é assim mesmo. A caretice humana está onde menos se espera.

Tudo começou com um amasso no elevador. Pega-pega básico, do tipo coelhinho-relâmpago, sem intenção de provocar curtos-circuitos maiores. Era para ser um vapt-vupt sem preâmbulos ou postergação, até porque nosso sistema de compressão não conseguiria esperar a privacidade recomendável de um lar para despressurizar. A coisa toda tinha começado no carro, esquentado na garagem e no elevador já estávamos num grau de calor impossível de controlar: pegamos fogo. Ele levantou a minha saia e me jogou contra a parede, olha que azar, justamente em cima dos botões. Trancamos o elevador.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

AH, A SILVINHA...


Depois do beijo sensacional da Silvinha, minha sorte mudou para muito, muito melhor. Por incrível que pareça, sem saber jogar pôquer, comecei a ganhar todas. E todos. Todos os olhares, todos os sorrisos, todos os toques por cima e por baixo da mesa. Foi como se aquela boquinha perfeita tivesse me dado poderes de Loreley: eu falava e os experientes marujos se atiravam aos meus pés, eu levantava para tomar um ar na janela, alguém vinha por trás – pela frente, pelo lado – me lamber, dar amassos, tirar uma casquinha gostosa. O jogo em si ficou em segundo plano. O plano agora era o horizontal.

A mesa virou um mero suporte de vontades. As cartas ferviam, olhares pegavam fogo. Cada rodada era uma peça de roupa que rodava. Meu vestido, meias de seda, soutien, foram parar no lustre. Todos estavam enlouquecidos pagando pra ver. E quando me deitei sobre as cartas em protesto contra um Às de ouro que não veio? Ninguém reclamou. O Júlio caiu de boca nos meus peitos, fazia círculos com a ponta da língua que me deixaram inteirinha um ouriço do mar. O Gílson foi abrindo o meu espartilho umbigo acima, ponto por ponto, presinha por presilha, com a ajuda de um gelo – que delírio! – achei que fosse desmaiar. E a Silvinha, ah, a Silvinha fez jus ao já comentado belo poder de sucção. O erotismo estava feito faíscas no ar.

APOSTANDO TODAS AS FICHAS


Fui convidada para um jogo de pôquer na casa do Júlio. O Júlio, marido da Betinha, minha amiga desde a adolescência. A casa é do Júlio porque eles são um casal moderno: cada um tem o seu canto. Moram separados e dormem juntos sempre que estão a fim ou quando um adormece em frente à TV do outro. Não encontrarem-se todos os dias foi uma maneira de preservar, mais que as manias e individualidades, o amor. E atiçar o fogo da paixão. “Quando eu vou ver o Júlio, me produzo toda, coloco minha melhor roupa, a mais sexy lingerie, me perfumo toda”, conta Betinha. “Ele sempre me agarra como se estivesse me vendo pela primeira vez”.

O Júlio e a Betinha têm uma regra: nunca se vêem aos domingos. Aos domingos, eles fazem o que quiserem com quem acharem que devem. Se der vontade, um conta para o outro na segunda-feira. Se der vontade. Caso contrário, nenhum dos dois entra em crise. “Eu só conto quando rola um caso extraconjugal daqueles bem picantes. O Júlio pira de tesão. Me chama de vadia, me xinga, depois me enche de beijos. Ele adora detalhes, por isso sempre incremento, aumento, invento. Porque você sabe, para alguém chegar aos pés do amorzão, só mentindo um pouquinho. Meu marido é perfeito”, confessa sorrindo.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

AMASSADINHA


Estava uma tarde morna, dessas que amolecem o corpo da gente e pedem uma companhia que acabe de nos derreter de vez ou um banho gelado revigorante. A piscina do prédio estava convidativa, mas marquinha de biquíni só me interessa na parte de baixo. E a última vez que fiz um topless no condomínio, vixe, foi um Deus nos acuda. Era um tal de homem babando, mulher vociferando, casais discutindo, cachorro latindo, chamaram até a polícia. Foi um erro tático: o batalhão inteiro da 19ª DP me tem na mais alta estima. Quando estou com insônia, pratico caridade, levo um bolinho de milho e um belo decote para alegrar a rapaziada. Teriam feito um favor em chamar os bombeiros. Diz que tem uma nova leva de recrutas de tirar o chapéu. Sempre tive fetiche por homens de fardas com grossas mangueiras na mão.

domingo, 15 de abril de 2012

A VIDA É ASSIM


Sábado morno, nenhum compromisso à vista, dois ou três convites pouco empolgantes. Resolvi me dar uma noite de orgias. Orgias gastronômicas. Fui ao supermercado sem segundas intenções, mas com aquela meia de seda fina e saltos-agulha que levantam qualquer autoestima, entre outras coisas. Sou, sempre fui, uma pessoa aberta a possibilidades. Saí vestida para matar, menos por vaidade do que por costume. Uma mulher bem vestida está sempre nua aos olhos dos homens. E, cá entre nós, a nudez implícita é um excelente afrodisíaco.

Empurrei meu carrinho pra cá e pra lá costurando prateleiras insossas. Nada me apetecia. Hoje estava a fim mesmo de um básico champanhe com morangos, daqueles bem molhadinhos, de chupar o caldinho e deixá-lo deslizar pelo canto da boca. De sentir os pinguinhos escorrendo pelo ombro e, de preferência, ter alguém para ir com a língua enxugando centímetro por centímetro, sulco por sulco, até... Ai, ai, Verônica. Melhor se concentrar. Olhaí, acabou de bater no carrinho do rapaz. Ula-lá! Não sou de perder o rebolado, mas que pedaço de mau caminho. Corpo de homem, rosto de menino. E que par de pés. Será que tirei a sorte grande?

MUITO PRAZER

Volúpia é uma palavra sugestiva. Para pronunciá-la, a gente faz um biquinho, depois encosta a língua assim, no lábio superior e, para arrematar, dá aquela apertadinha na boca, de quem está prestes a cometer um ato libidinoso. Tive sorte de nascer com este nome tatuado na minha estirpe. E mais ainda de vir ao mundo com lábios carnudos, pele aveludada, longas pernas bem torneadas, um quadril de parar o trânsito e uma cinturinha sinuosa, que só se aquieta com uma boa pegada. A natureza foi generosa comigo. Procuro não decepcioná-la.

Tenho cabelos compridos de cor indefinível. Tudo depende do meu humor. E da ocasião. No momento, estou morena, só porque as loiras estão em alta. Gosto de ir contra a corrente, chamar a atenção. Amo decotes, esses precipícios de promessas e mistérios que não se desvendam, mas se oferecem. Adoro como os olhares masculinos infalivelmente caem nessa armadilha, se prendem, se agitam, e de como as respirações se alteram, as peles enrubescem, o calor aumenta. Se um verdadeiro vulcão de emoções entra em erupção com um simples artificiozinho feminino, imagine com a inventividade dos acessórios de última geração? Eles abrem um leque de possibilidades. Possibilidades estas que eu totalmente me possibilito.

Não tenho culpas. Nasci desprovida deste mecanismo de autodefesa. Quando quero, quero e, se o outro quer, já viu, são dois querendo. Ou três, quatro, sabe como é. É como fio e pavio, fósforo e pólvora, um risca, o outro acende, e vira aquele fogaréu. Como resistir? E pra quê? Meu desejo inflama fácil, não sou das mais exigentes. Não tenho preconceitos de raça, cor, nem, principalmente, de sexo. O que seria da música se houvesse uma nota só? Toco em todas as escalas, ritmos, orifícios. Só não danço dois pra lá, dois pra cá, porque gosto de inovar.

Nunca tive namorado, mas acredito em fidelidade. Para os outros. Quando quem me trai descobre que já foi traído fica fulo da vida. Os homens brasileiros são muito machistas, não gostam de competidores à altura. E, para mim, infidelidade é uma questão de urgência. Não me peçam para controlar o incontrolável. Também não consigo ficar muito tempo com uma pessoa só. Minto. Consigo ficar hoooras, dias, uma longevidade, entre quatro paredes com alguém que me faça nunca querer ir embora. Que saiba escorregar nas minhas curvas com a destreza que a minha sinuosidade exige. Que me engula, amasse, esfole, arrepie, que me cavalgue, que me inspire. Que consiga libertar com toques, sussurros, olhares, os urros selvagens da minha feminilidade. Sim, jogo nos dois times, mas sou superfeminina. Disso, não abro mão. Tudo o mais é negociável.

Já tentei fazer análise para compreender a minha luxúria, mas os psicanalistas acabavam sempre na minha cama, não deu muito certo - não no ponto de vista ético. Ai, ai. No fundo, sou uma romântica inveterada. Dou o maior valor para flores, bombons, agradinhos. O problema é que eles são o aperitivo e eu, infalivelmente, o prato principal - com direito a repeteco e sobremesa, claro, porque generosidade é uma qualidade da qual me orgulho. Um belo dia, desisti de tentar entender o mundo e me aceitar como sou. Se os outros aceitam e pedem mais, porque vou ficar criando caso? Os únicos casos que eu crio agora são exatamente esses que vocês estão pensando.

Olha, não sou muito boa com palavras, mas resolvi aceitar o convite de escrever estas memórias porque o melhor da vida são encontros. E me agrada ter um encontro com você aqui para falar de sexo e amor, essas duas coisas complementares e independentes que, servidas juntas dão a impagável ilusão de plenitude e, separadas, a deliciosa sensação do aconchego. Só não espere de mim dicas ou orientações. Tudo o que sei é baseado nas minhas mais singelas experiências pessoais. Experiências essas que relato sem pudores. E ofereço como inspiração. Vou fazer na teoria como faço com a prática. Com muito, muito prazer.

A volta da Verônica

U-A-U. Cinco anos se passaram desde que criei este blog e nunca atualizei. A ideia era postar pensamentos curtos da Verônica Volúpia, mas um belo dia as palavras foram dormir e a personagem não mais acordou dentro de mim. Resolvi então, com um pequeno delay de anos, republicar os contos da VV. Um por dia, para relembrar a volúpia que mora em cada mulher. Aos que já conhecem, muito prazer em revê-los. A quem está conhecendo agora, o prazer é todo meu.

Beijos,
Ana Kessler